
Passei uma temporada trabalhando em União da Vitória, no Paraná. Nas horas livres, aproveitava para dar algumas braçadas no único clube que tinha uma piscina de 25 metros. Foi um período inesquecível: fiz muitos amigos e, na piscina, conheci um senhor chamado “Seu Dico” – que devia ter uns 70 anos. Seu nome era Adir Buschemann. Nadava muito mal, mas compensava com força de vontade. Sempre dizia que a água da piscina inflamava muito seu ouvido.
Foi nessa época que ele me contou que era triatleta – e isso selou nossa amizade. Adir era muito conhecido no meio esportivo, principalmente porque fazia um triathlon impressionante para a idade. Aos 73 anos, participou de um IronMan, numa época em que os idosos eram apenas figurantes. Virou referência e exemplo. Era comum nos encontrarmos em provas de triathlon, assim como era comum ver aquele “gigante” no pódio. Ele ficava feliz com essa visibilidade, sabendo que não era por ego, mas pela chance de mostrar aos jovens que o esporte é para sempre.
Escrevi que “Seu Dico” nadava mal, mas, em compensação, pedalava e corria como um garoto – de um jeito que chamava minha atenção. Chegamos a correr juntos pelas ruas de União da Vitória durante os treinos. Sempre me intrigou como aquele homem se entregava aos treinos. Dava a sensação de que aquilo seria a última coisa que faria na vida.
Era sempre falante e estava sempre planejando a próxima competição. Sua presença transformava o ambiente – uma mistura de elegância e obstinação. Às vezes, achava que, com tanto excesso de treino, “Seu Adir” poderia se desmanchar. Era magro, esbelto, forte e obcecado por seus objetivos. Sempre encontrei no esporte algo semelhante, mas tínhamos uma diferença: ele ia até o fim; eu, não.
“Seu Dico” morreu esta semana, aos 93 anos. Seus últimos anos foram uma “corrida” contra o Alzheimer – a única prova que ele sabia não poder vencer.
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