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Para que servem pais de adultos?

Ver-se anacrônico é desafio para quem se habituou a apresentar o mundo ao outro

Ao me tornar mãe de adultas, me pergunto: qual é, afinal, a minha função? O cuidado com elas já não se parece em nada com a ocupação ostensiva que exerci quando eram pequenas —e Deus que me livre de ter que voltar àquilo. A preocupação, no entanto —sinto informar—, se provou perene.

Ouço o sofrimento de adultos que perderam seus pais, resgatando memórias de todas as fases da vida. Elas se acumulam sob uma ausência que nunca parece fazer sentido —ainda que seja o grande sentido da existência: as gerações se sucedem, e os pais têm que partir antes.

O “furor educantis” é um dos hábitos mais difíceis de os pais abandonarem e, quando menos esperamos, estamos lembrando os filhos de cumprimentar as pessoas, dizer “obrigado” e usar o guardanapo —num flagrante de anacronismo. E o cara tem 30 anos!

É compreensível o receio de que a relação se torne burocrática e visitar os pais seja apenas mais uma tarefa a riscar da lista. Além de visões de mundo que podem ser inconciliáveis, é a própria interseção de experiências que começa a rarear: gostos musicais, normas de etiqueta, estilos, expressões —enfim, são inúmeros os códigos de uma geração que a outra já não partilha.

E é para isso mesmo que essas diferenças existem: para sinalizar mudanças e afirmar que os mais jovens também são criadores de algo inédito.

Tornar-se anacrônico diante dos filhos, não saber o que eles sabem, é um desafio para quem se habituou a apresentar o mundo ao outro. A ferida narcísica provocada pela perda de ascendência sobre eles é conhecida dos pais —e será vivida oportunamente pelos filhos, quando chegar a vez deles.

O antídoto para isso é o prazer de conhecer, através deles, um universo que de outra forma nos seria inacessível: as saídas que encontram para os impasses amorosos, a forma como encaram o trabalho, o que esperam do futuro, quais são suas causas políticas e sociais, o que consideram justo. Em suma, o que fizeram com nosso legado capenga —e o que deixarão, de igualmente precário, para os que vierem depois.

Comparada ao amor e à confiança cega que os filhos tinham por nós na infância, a afeição que demonstram na vida adulta pode frustrar alguns. Mas, de fato, é aí que se revela algo mais autêntico, pois não se apoia mais na alienação infantil ao desejo dos pais.

Crianças evitam reconhecer a falibilidade de seus cuidadores para se proteger da angústia de saber que dependem inteiramente de pobres e míseros mortais. É daí que nasce a idealização: um artifício necessário para que consigam brincar e dormir em paz.

Um constrangimento comum é a necessidade que muitos filhos sentem de provar maturidade contrariando sistematicamente os pais. Por outro lado, também podem se infantilizar diante deles, na tentativa de preservá-los num lugar de onipotência. Ambos os comportamentos dão bandeira de como a influência dos pais pode continuar pesando mesmo na fase adulta.

Por tudo isso, pais e filhos talvez nunca se tornem amigos no sentido estrito do termo. Para alguns, isso pode parecer um fracasso. Mas por que a amizade deveria ser o nosso critério? Já não bastam os encantos —e os abismos— que essa relação nos impõe?

Por Vera Iaconelli (FSP 05/5/25)

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