Jasmin Paris, 40, encerrou a maratona Barkley, no Tennessee, a 99 segundos do limite de 60 horas
Emmett Lindner
THE NEW YORK TIMES
A corredora Jasmin Paris tornou-se na sexta-feira (22) a primeira mulher a completar a maratona Barkley, uma corrida extrema que exige que os participantes, em uma área rural do Tennessee, naveguem por 160 quilômetros de terreno acidentado em no máximo 60 horas.
Paris, 40, de Midlothian, Escócia, terminou a corrida com 99 segundos de sobra, tornando-se uma de apenas 20 pessoas a completar a Barkley desde que foi estendida para 160 quilômetros, em 1989. Ela foi uma das cinco a terminar neste ano, de um total de 40 inscritos.
No final da corrida, Paris desabou no chão em frente a um portão amarelo que marca o início e o fim do evento, que consiste em cinco voltas de aproximadamente 32 quilômetros cada uma.
“Os minutos finais foram tão intensos, depois de todo esse esforço, se resumiu a uma corrida íngreme, com cada fibra do meu corpo gritando para eu parar”, disse Paris em um email.
Suas pernas estavam cobertas de cortes e arranhões quando ela chegou ao final da corrida, que foi tema de um documentário de 2014, ” The Race That Eats Its Young” (“a corrida que devora seus jovens”, em inglês).
“Eu nem sabia se tinha conseguido quando toquei o portão”, acrescentou. “Eu dei tudo de mim para chegar lá e então desabei, ofegante.”
Ela tentou a corrida em 2022 e 2023 e se tornou a primeira mulher a chegar à quarta volta desde 2001. Embora não tenha completado o evento nesses anos, ela disse que se sentiu mais confiante e experiente ao entrar na corrida na sexta-feira.
Em 2019, Paris, ultramaratonista e veterinária, tornou-se a primeira mulher a vencer a Montane Spine Race, uma ultramaratona de 430 quilômetros no Reino Unido. Ela quebrou o recorde anterior do percurso em 12 horas, apesar de parar nos postos de controle para bombear leite materno para seu recém-nascido.
A Barkley começou em 1986, depois que seu fundador, Gary Cantrell, soube sobre a fuga da prisão de James Earl Ray, o homem que assassinou o reverendo Martin Luther King Jr.
Ray fugiu por 13 km ao longo de 54 horas pela selva do Tennessee. Cantrell achou que poderia se sair melhor e começou a mapear rotas dentro do Frozen Head State Park.
A prisão está ao longo da rota da corrida, que pode mudar a cada ano e exige que os atletas frequentemente corram por terrenos sem trilhas.
As regras para entrar na corrida são misteriosas. A Barkley não faz propaganda. Ela pede aos candidatos que enviem um ensaio explicando por que desejam competir, além de uma taxa de inscrição de US$1,60 (R$ 8).
“Não há site, e eu não publico a data da corrida ou explico como se inscrever”, disse Cantrell em uma entrevista de 2013 ao The New York Times.
“Qualquer coisa que a torne mais mentalmente estressante para os corredores é boa”, acrescentou.
Nada sobre a maratona, que também tem o equivalente a 18 mil metros de subida e descida, cerca de duas vezes a elevação do monte Everest, é simples.
Na noite anterior ao evento, os corredores devem ficar alertas para o som de uma concha que sinaliza uma hora até o início da corrida. Quando eles se posicionam, Cantrell sinaliza o início da corrida acendendo um cigarro cerimonial.
Conforme a corrida avança, os corredores devem encontrar livros espalhados pelo percurso e remover uma página que corresponda ao seu número atribuído, para provar seu progresso.
Eles entregam a página de cada livro para Cantrell, à medida que completam cada volta. Não há marcadores de caminho, e os corredores têm que memorizar o percurso antes de começar.
“Se há uma coisa que aprendi com a Barkley”, disse Paris, “é que você nunca sabe do que é capaz até tentar.”
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