Duas vezes na semana almoço em restaurante vegano, mesmo que à noite coma carne e beba cerveja. Mas o vegano desta semana foi mais que comida saudável, quem sabe, almoço filosófico. Numa mesa ao lado da minha, duas senhoras, próximo dos 80 anos. Por muito pouco não sentei com elas, faltou largar a fachada de curitibano. A conversa das “maiores” como dizem os espanhóis, beirava a um diálogo platônico, como a imortalidade da alma. Não precisei fazer força para escutar o que diziam, parecia que queriam dar uma aula de vida, reforçavam as falas e se divertiam. Era Fédon comentando sobre os últimos momentos de Sócrates. Não era irônico, mas real. Precisava escutar mais.
Depois que elas me deixaram, fiquei pensando “o que aconteceu nestes últimos vintes anos da minha vida?” Este número cabalístico talvez seja a idade que terei aos oitenta. Os vinte do passado me ensinaram que devo desfrutar os próximos vinte? Será que terei saúde, amigos e inteligência para almoçar fora e rir de si mesmo? As duas senhoras eram elegantes, não só na aparência, mas na condução da conversa. Será possível manter essa conduta daqui a vinte? Aos vinte anos, estava sonhando com a vida profissional que se apresentava, aos quarenta, tentando provar que tudo que planejei era possível, aos sessenta, desbravo novas veredas, sem lamentações. Impossível planejar, mesmo que o exemplo das “maiores” seja lúdico. Prefiro não pensar, mesmo que seja arriscado. Os próximos vinte podem ser reflexos das luzes que me acompanharam até aqui.
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