Temos medo de morrer ou de viver? Angústia antes da morte, como escreveu Nietzsche, é pelo tempo que não foi vivido. Por outro lado, se sabemos que a ordem cósmica é eterna, garantida por Zeus, assim, tornamo-nos uma espécie de “fragmento da eternidade.” Um ser de passagem, como o nosso, deveríamos assim, desfrutar do momento, sem a sensação da morte iminente. Mesmo que este mundo maluco diga ao contrário. A história que representa este medo, começa pelo abraço. Explico:
Gaia (Terra), contrário do Caos, não nos deixa cair, nos apoiamos para absorver o passo seguinte. É de Gaia o aparecimento de Urano (Céu), mesmo que este torne-se amante de Gaia. A filosofia explica Urano como uma segunda pele. Uma espécie de abraço do Céu com a Terra. Sem dúvida que de tanta proximidade, os dois fazem amor diariamente, o suficiente para nascer um número grande de filhos: Titãs, 12 seres assustadores, 6 homens e 6 mulheres, são seres da guerra. Mais 3 Ciclopes: raio, o trovão e o relâmpago. Os últimos são os Hecantoquiros (Cem-braços), uma espécie de monstros, que possuem cem braços. Até aí tudo bem, mesmo que Gaia sinta-se sufocada pelo fato de Urano não deixar que seus filhos se libertem.
O improvável acontece, o filho mais novo, Kronos, estimulado pela mãe terra, é induzido a matar o pai, Urano. Isso acontece quando Gaia faz amor com Urano, nesse momento, Kronos agarra o sexo do pai e o corta, com a mão esquerda – por isso será sempre a mão ruim, a “sinistra”.
Sem alternativa, Urano se desprende de Gaia, ou seja, o céu se afasta da terra, criando um espaço livre entre eles. Urano torna-se “teto do mundo.” É o nascimento do espaço. A castração de Urano representa o nascimento do tempo, outras gerações vão aparecer.
Sem dúvida que a linda e profunda história continua, em outra postagem, sigo o roteiro que nos mostra que não deveríamos nos preocupar com a morte, nem com o medo, pois o cosmos já nos acalenta. O primordial nessa passagem é o resgate do abraço e não da tirania.
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