
Alerta: não somos inocentes
“A gente sabe que hoje há uma ‘epidemia’ de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista, porque isso virou uma mina de enriquecimento para um determinado grupo de médicos, clínicas, etc. A reflexão que vale a pena é que uma mãe consiga entender que ela pode estar sendo manipulada. Se um médico chega e diz que meu filho tem Transtorno do Espectro Autista, como mãe, eu vou fazer o que? Vou negar? Não, eu entro em pânico e, a partir daí, eu passo a ser vítima dessas pessoas”, diz em vídeo que circula na internet o desembargador Amílcar Roberto Bezerra Guimarães, do Tribunal de Justiça do Pará (TJ-PA).
Do alto da minha trajetória de seis anos como mãe de um menino autista e de 38 anos como irmã de uma moça com síndrome de Down, me pergunto: quem são essas mães inocentes e vítimas? Onde elas estão?
Exaustas, perdidas, que choram no banho e no travesseiro, bravas, revoltadas, sim. Inocentes e vítimas?
Vejo mães que viajam a Brasília para se acorrentar em frente ao tribunal contra o rol taxativo.
Vejo outra mãe que mudou de profissão e se tornou grande referência de autismo e ciência nas redes, pesquisando e oferecendo suporte para mães de bebês com atrasos em desenvolvimento.
Vejo mãe que redirecionou a carreira de professora e hoje acolhe dezenas (centenas) de outras mães e profissionais, formando uma rede de especialistas em autismo, com informação baseada em ciência.
Vejo mães que viraram ativistas, deputada, briguentas em escolas atrás de direitos, advogadas especializadas em direito da pessoa com deficiência, juízas que buscam mais acesso e direitos, professoras engajadas, criadoras de abrigos inclusivos em tempos de enchente. E assim vai.
Vejo inclusive minha própria mãe, que já buscou tratamento para minha irmã em diversas cidades e países, incansável em tentar compreender o que nem os especialistas compreendem.
Não vejo vítimas, desembargador. Nem inocentes.
Seguimos alertas a comentários ignorantes e preconceituosos — é verdade que já um pouco cansadas deles, porque eles se repetem, sem originalidade, ao ponto de virarem entediantes.
Por Johanna Nublat (FSP 12/6/25)
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