
Distúrbio é caracterizado pela dificuldade em iniciar ou manter o sono e pelo despertar precoce;
Existem mais de 80 condições que afetam o ciclo sono-vigília, que é a tendência natural do corpo de ficar acordado em parte do dia e dormir na outra. Elas são chamadas de distúrbios do sono.
A insônia é caracterizada por queixas que refletem um sono não reparador, seja pela pouca quantidade ou pela má qualidade do descanso.
Relembre: cada pessoa tem uma quantidade de sono ideal a ser cumprida (expliquei como identificar a sua na última edição) e uma tendência mais matutina ou vespertina, ou seja, de acordar e dormir mais cedo ou mais tarde.

A insônia se manifesta de três formas, que podem coexistir:
- Dificuldade de iniciação: é a demora para adormecer, quando a pessoa deita e fica revirando na cama ou pensando em problemas e pendências;
- Dificuldade de manutenção: são os despertares frequentes que tornam o sono superficial, mesmo sem dificuldade para cair no sono e cumprindo as horas adequadas;
- Despertar precoce: é acordar muito mais cedo do que o horário que seria ideal para aquela pessoa.
A insônia crônica é diagnosticada quando uma ou mais dessas situações se manifestam pelo menos três vezes por semana durante três meses, explica Dalva Poyares, neurologista e pesquisadora do Instituto do Sono.
Por que ela acontece? Não falamos em causas, mas em fatores predisponentes, desencadeantes e perpetuantes.
1. Predisponentes: estudos sugerem uma predisposição genética para o distúrbio. “É uma combinação de fatores nos genes da pessoa que a predispõe a desenvolver insônia”, diz Poyares.
2. Desencadeantes: um dos fatores mais relevantes é a exposição ao estresse, que faz com que o corpo fique em estado de alerta.
- “Várias pessoas podem passar pela mesma situação de estresse. As que têm predisposição poderão desenvolver insônia”, diz a neurologista.
As situações estressoras podem ser acontecimentos bons ou ruins: excesso de trabalho, perda de emprego, divórcio, morte, planejar um casamento, receber uma promoção…
Existe uma relação entre dor e insônia —uma potencializa a outra. Um tipo de insônia, a comórbida, acontece concomitantemente a outras doenças. “É nítido que dormir com dor é muito mais difícil”, afirma a neurologista.
↳ Alguns exemplos: pessoas com depressão e ansiedade, com asma ou falta de ar ou com refluxo.
3. Perpetuantes: são fatores que mantêm a insônia, como a exposição prolongada ao estresse ou maus hábitos de sono.
É como um ciclo: pessoas com dificuldade para dormir ficam hipervigilantes com o sono, o que as deixa em estado de alerta.
- Sabe a sensação de deitar na cama, ficar ansioso por ter poucas horas de sono e, por isso, não conseguir dormir? Imagine isso acontecendo com frequência.
Há fatores de risco? Sim. Mulheres, por exemplo, apresentam um risco até 40% maior do que os homens, de acordo com a Academia Brasileira do Sono (ABS).
- Oscilações hormonais, jornada dupla de trabalho e condições crônicas que geram dor são alguns dos motivos, segundo a entidade.
Outros fatores de risco são idade avançada (idosos), história familiar de insônia, história prévia pessoal do distúrbio e características de personalidade ansiosa, de acordo com a ABS.
Quais as consequências? A curto prazo, a insônia gera prejuízos diurnos, explica Geraldo Lorenzi Filho, diretor médico da Biologix e coordenador do Laboratório do Sono do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP.
↳ Cansaço, fadiga, dificuldade de concentração e raciocínio, dor de cabeça, irritação e ansiedade são exemplos.
A longo prazo, pode levar a depressão, diabetes, demência, hipertensão e outros problemas cardiovasculares, além de diminuir a longevidade, cita Poyares.
O que fazer? A higiene do sono é uma das estratégias dentro da terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I), que faz parte do tratamento do distúrbio.
As clássicas instruções genéricas, como “não veja TV antes de dormir” podem não funcionar —na verdade, para algumas pessoas com insônia, a televisão pode até trazer sonolência. Por isso, a abordagem deve ser individual.
- “Você tem que checar o estado de saúde, se existe outra doença associada, observar quais são os hábitos do dia a dia e tentar ajustar para favorecer um sono de mais qualidade. Tem que conhecer o indivíduo”, explica a neurologista.
Veja orientações dos especialistas:
Fuja do sedentarismo
Pessoas ativas física e mentalmente dormem melhor. Pratique exercício físico —se for possível, pela manhã.
Conheça seu relógio biológico
Você é mais matutino ou vespertino? Tente adequar o horário de dormir, acordar e fazer outras atividades ao ritmo natural do seu corpo.
Identifique e trate doenças associadas
O tratamento da insônia deve acontecer concomitantemente com o de outras condições que possam estar afetando sua saúde.
Gerencie o estresse e a ansiedade
São dois fatores desencadeantes muito importantes que devem ser manejados. Identifique estratégias para controlá-los e, se preciso, busque ajuda profissional.
Crie rotina
Tenha um horário fixo para dormir, para acordar, para fazer exercício físico… Consolide hábitos para ensinar e acostumar seu corpo aos mesmos horários.
E os medicamentos? Existem bons remédios para tratar insônia. “Eles são necessários pois, dependendo da gravidade, a terapia pode não ser suficiente sozinha”, explica Poyares.
A neurologista alerta para o abuso de hipnóticos que induzem o sono, como o zolpidem. “Temos que ter cuidado com soluções muito mágicas. Então, eu coloco alguma coisa embaixo da língua e quero apagar”, exemplifica.
O tratamento medicamentoso é individualizado. Médicos especializados em sono vão avaliar os sintomas e as necessidades para realizar a prescrição.
Por Gabriela Bonin (FSP 18/03/25)
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