Observar de perto as transformações acadêmicas e profissionais facina e aterroriza qualquer cidadão preocupado com o mundo. Não me refiro à tecnologia, essa jamais conseguiremos acompanhar. Meu curso de Educação Física nos anos 1980 era essencialmente prático, ainda não fazíamos pesquisa na Universidade, os professores haviam iniciado o stricto sensu. Assim, as disciplinas eram permeadas pelas vivências de cada professor. Em algumas delas, às disciplinas, era evidente a formação militar do professor, inserido no contexto pós-ditadura. Eis o paradoxo, outras Universidades já contemplavam currículos mais avançados. Mas ao mesmo tempo, o processo da especialização, ou seja, um enfoque mais científico já se anunciava (ainda estou nos anos 80 e na UFPR). Eram raros os professores, alguns já pensavam as disciplinas controlando a teoria com a prática. A fase dos “curandeiros” estava acabando, dando lugar ao “anima” (STAHL 1660-1734).
Se na época, nos deliciávamos jogando, nadando e correndo, hoje, percebe-se a carência de disciplinas práticas dos novos acadêmicos. As aulas teóricas suplantam em muito às práticas. Se a “nova” concepção epistemológica revolucionou os currículos, a profissão de Educação Física (EF) no séc. XXI ganha pela importância, como na medicina, quando as atenções estão na condição dos “saudáveis”. A medicina do séc. XX visava curar os doentes; na EF, preparar um corpo fisicamente para regeneração da raça e de preparação para o trabalho, rodeado do paradigma cartesiano.
Vivenciar os “contornos” e os novos caminhos da ciência do “corpo” não me assustou tanto como a Epigenética – campo que estuda como determinados estímulos ambientais ativam ou inibem a expressão de genes. É sabido que essa área da medicina também assume importância na prevenção e tratamento de doenças, entretanto, a epigenética colaborou com a EF quando rompeu com o estigma do corpo belo e forte (a educação é assunto para outra postagem). Agora a EF pode pensar em prevenção, justifica-se pela epigenética, sem movimento os corpos adoecem, ou melhor, a metilação do DNA não ocorre.
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