“O mundo fitness é fake. Ele não está preocupado com a sua saúde e o seu bem-estar”, afirma Bruno Gualano em seu curso na recém-lançada CasaFolha. “Por mundo fitness, entenda esse de maior sucesso nas mídias sociais”, completa.
Doutor em educação física pela USP e professor da Faculdade de Medicina da mesma universidade, Gualano chama a atenção sobretudo para o uso abusivo de esteroides anabolizantes —a popular bomba, às vezes disfarçada como chip da beleza ou reposição hormonal, entre outros eufemismos.
Tem muita gente ganhando dinheiro com o uso não terapêutico da substância, diz o professor, segundo quem a situação já foi reconhecida como problema de saúde pública. “As pessoas estão sofrendo com eventos adversos gravíssimos, muitos deles perenes ou que culminam com a morte.”
Gualano sabe o que fala. É fundador e presidente do Centro de Medicina do Estilo de Vida, onde conduz pesquisas sobre exercícios e nutrição. Seus estudos o levaram a figurar, nos últimos três anos, como um dos cientistas mais influentes do mundo em lista elaborada pela prestigiosa Universidade Stanford (EUA).
(…) Em relação aos anabolizantes, por exemplo, ele diz que o consenso científico é claro: fora das poucas situações terapêuticas específicas, não existe nível seguro para usar a substância. “É uma roleta-russa, porque não dá para prever os efeitos adversos.”(…)
(…) “Se a gente for pensar que o mundo fitness invadiu as redes sociais e todo mundo tem uma fórmula mágica, é conveniente jogar a luz da ciência para entender o que tem base científica e o que não tem.”
A creatina, por exemplo, tem. “Talvez seja o suplemento mais estudado da literatura científica”, afirma o professor. De acordo com ele, a substância é segura e produz bons resultados, mas não para todo mundo nem em todas as atividades físicas.
Gualano explica que a creatina oferece uma reserva de energia para os músculos, tal qual um estoque adicional de combustível no tanque. Só que, como a substância é encontrada naturalmente em carnes, diz o professor, a suplementação tende a ser desnecessária para quem tem dieta rica nesse alimento.
Além disso, ela funciona muito bem para exercícios de altíssima intensidade e curtíssima duração, e não para outras atividades físicas.
Outro tema bastante conhecido na literatura científica e abordado por Gualano é a suplementação de proteínas. A respeito dos produtos que prometem ganho de massa muscular, o professor afirma: “Existem basicamente dois grupos: o dos que já foram testados e não funcionam, e o dos que ainda não foram testados suficientemente para haver uma conclusão”.
O que se sabe é que a proteína é necessária para haver ganho muscular. Mas também se sabe que, a partir de uma certa quantidade de proteína, não há ganhos adicionais ao aumentar a dose. Ou seja, de acordo com o professor, suplementos como whey são indicados apenas para quem não consegue ingerir a quantidade adequada de proteína em sua dieta.
Ele também explica que não há por que consumir whey imediatamente após o exercício. “O sujeito não dá nem tchau para o professor, pega a coqueteleira, toma um monte de proteína logo depois porque acha que vai catabolisar, vai perder músculo. Não acontece assim, gente.”(…)
Fonte: FSP (03/11/24)
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