Literalmente, tocar a terra, inclusive andar descalço sobre ela ou sujar as mãos, pode melhorar sua saúde intestinal
Por Jose David Henao Casas
Muitas vezes negligenciado, o solo é um dos maiores ecossistemas vivos do nosso planeta e a base de nossas vidas. Ele fornece 95% dos nossos alimentos, sustenta a biodiversidade global e ajuda a equilibrar o clima ao armazenar carbono atmosférico.
É, também, uma enorme fonte de matérias-primas, desde o minério de ferro e a bauxita (a rocha da qual se fabrica alumínio) até o gás natural usado para alimentar nossa sociedade.
Um novo relatório da Save Soil —uma campanha do movimento global Conscious Planet— descreve as maneiras surpreendentes pelas quais um solo saudável está diretamente ligado à nossa saúde física e mental.
Literalmente, tocar a terra, inclusive andar descalço sobre ela ou sujar as mãos, pode melhorar sua saúde intestinal. Nós carregamos muitas das mesmas bactérias que o solo em nossos intestinos e em nossa pele. Portanto, o corpo humano é coberto por dentro e por fora com micróbios encontrados na terra.
Estudos mostram que a quantidade de contato físico com o chão natural afeta a diversidade e, portanto, a saúde do seu microbiota intestinal. A maior diversidade de bactérias intestinais já registrada foi encontrada em uma população isolada de caçadores-coletores na floresta amazônica, que estão em contato quase constante, descalços, com uma terra de qualidade.
Nossa saúde intestinal é apoiada por uma dieta equilibrada e nutritiva —é nesse ponto que a saúde da terra talvez tenha um impacto mais direto em nosso bem-estar diário. Para funcionar bem, nosso corpo precisa de vitaminas e nutrientes que ingerimos por meio da alimentação de plantas e animais— que crescem e se alimentam em solos saudáveis e vivos, ricos em matéria orgânica, e resultam em alimentos mais nutritivos para os seres humanos.
Consumir mais de quatro ou cinco porções, por semana, de vegetais crucíferos como brócolis e couve está associado a um risco reduzido de cân Sarah Maffeis/The New York TimesMais
Solos degradados, deficiências nutricionais
Muitas deficiências nutricionais em nossos alimentos resultam do cultivo em terrenos degradados. Até mesmo os nutrientes dos ingredientes mais comuns estão em risco. Um estudo descobriu que o teor de proteína no trigo diminuiu 23% entre 1955 e 2016. Conforme descreve o novo relatório da Save Soil, a degradação de nossas terras significa uma saúde humana mais fraca e mais disfuncional.
O que exatamente é a degradação do solo? A ONU a define como “o declínio físico, químico e biológico de qualidade”, que “pode gerar a perda de matéria orgânica”. Isso, geralmente, é causado por práticas agrícolas insustentáveis, como arar demais. A matéria orgânica, nesse caso, é a parte “viva” do solo —as partes ricas em resíduos vegetais ou animais que estão sendo decompostos por micróbios e transformados em nutrientes que podem ser reciclados por outros organismos.
A Save Soil argumenta que é necessário ter pelo menos de 3 a 6% de matéria orgânica (com base nas condições regionais) no solo agrícola para garantir que ele esteja fornecendo produtos nutritivos. A triste realidade é que a maior parte do mundo está longe desse mínimo. Atualmente, até 40% das terras do mundo estão degradadas. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação alerta que 90% da camada superficial do planeta pode estar em risco até 2050.
As deficiências nutricionais causadas por essa destruição generalizada têm um impacto sobre nossa saúde mental. As quedas de micronutrientes essenciais, como as vitaminas B1, B6 e B9, geralmente causadas pela má saúde do solo, estão ligadas a distúrbios de saúde mental, como a depressão. Da mesma forma, as deficiências de ferro e zinco levam a uma função cerebral deficiente. Por outro lado, microbiomas intestinais mais saudáveis têm sido associados a uma maior produção de “hormônios da felicidade”, como a serotonina e a dopamina.
A boa notícia é que o aumento da matéria orgânica do solo pode ser alcançado se os agricultores receberem apoio para fazer a transição de métodos intensivos e monoculturas para práticas agrícolas mais regenerativas, como o cultivo de cobertura (plantio de culturas não colhidas para enriquecer a saúde do solo) e a rotação de plantações.
A próxima cúpula climática da ONU, em novembro, será uma oportunidade para os governos introduzirem mudanças nas políticas que ofereçam incentivos financeiros para ajudar os agricultores nessa transição.
Coloque as mãos na massa sempre que puder, caminhe descalço pelo parque e compre alimentos e bebidas produzidos por agricultores regenerativos para apoiar a agricultura sustentável. Se isso é bom para a terra sob nossos pés, também será bom para seu corpo e sua mente.
Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.
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