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Na busca pelo ‘grande amor’, perdemos os amores da vida

O amor perece, mas não sem antes fazer da vida algo que vale a pena

São raras as situações nas quais temos a oportunidade de interagir com colegas, amigos, parentes, amantes e desconhecidos simultaneamente. Essas ocasiões servem para vislumbrarmos os círculos concêntricos nos quais depositamos nossos afetos, que vão do mais denso e apaixonado até o mais incipiente. Estes últimos podem se revelar surpreendentes quando ouvimos algo cuja intensidade e justeza nos abala: uma confissão inesperada, uma troca de olhares.

Esses encontros presenciais nos lembram que, sem a eletricidade das interações, que podem ir da animação ao choque, a vida fica de tal forma empobrecida que só nos resta a angústia e a agressão.

A supervalorização da busca pelo “grande amor”, a relação que o romantismo nos enfiou goela abaixo, põe em risco o reconhecimento das nuances afetivas que somos capazes de viver fora do modelo casalzinho.

A indeterminação do que cada pessoa nos provoca gera ansiedade e costuma descambar para a classificação hierárquica das relações: meu isso, meu aquilo. Busca-se controlar, em vão, o risco de sentir o que não se deve por quem não se pode. Mas está aí o tipo de expectativa que não cansa de levar os sujeitos ao adoecimento, fenômeno tão conhecido da psicanálise. O recalque dos afetos retorna na forma de vexame e, por vezes, na forma mais sofrida de sintoma.

O amor —que somos incapazes de definir, como a poesia não cansa de demonstrar— funciona como busca incessante por reconhecimento, identificação, corporalidade, enfim, por tudo o que alimenta nosso narcisismo. Mas não só.

Um homem e uma mulher se beijam de uma forma discreta, em uma praça, durante o dia. Não é possível ver o rosto dos dois, apenas os cabelos e perfis. A mulher tem o cabelo loiro e o homem tem o cabelo curto e castanho escuro

As relações ocupam também um lugar no espaço social, têm repercussões, sofrem interditos e incentivos. Elas são taxadas, judicializadas, moralizadas, enfim, não há nada entre humanos que seja estritamente natural. “As coisas não têm paz”, como diz nosso orixá encarnado, Gilberto Gil.

Freud foi xingado de pansexual por só pensar “naquilo”, ou seja, por entender a sexualidade para muito além do coito. Isso significa que um bebê recém-nascido, a partir dos cuidados amorosamente investidos, já é um ser sexual. Fogo no parquinho para quem imagina que só nos fazem vibrar, emocionar e desejar os sujeitos com quem namoramos e casamos.

Mas as regras e etiquetas, que organizam as relações afetivas, não são capazes de erradicar o efeito erótico estrutural que temos uns sobre os outros, que insistem em nos ultrapassar. Ainda assim, são essas regras que nos permitem conviver em sociedade.

Daí que a arte de navegar entre essas diversas relações amorosas —cada uma à sua maneira— não prescinde de um alto grau de honestidade para consigo mesmo. Reconhecer, nomear e fazer algo com o efeito dos encontros sobre nós, nos responsabilizando inteiramente pelo que fazemos, é o mantra ético daqueles que não se furtam a assumir o próprio desejo.

Vale lembrar, com Milton, outra fonte de luz do nosso tempo, que “qualquer maneira de amar vale a pena“. Entendo que o amor fraterno, ao próximo e ao distante, se inclui aí. Fora da dominação e da exploração do outro, e havendo consentimento, cabe seguir apostando nas diferentes formas de amar.

O amor é vão porque, como nós, ele perece, mas não sem antes fazer da vida algo que vale a pena.

Por Vera Iaconelli (FSP 24-9-24)

p.s. como escreve um leitor atento: Os dois trechos de letras citadas no texto são, respectivamente, de Arnaldo Antunes e de Caetano Veloso. Os seus intérpretes mais famosos são Gil e Milton (co-autor)

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