Pessoas nadam ou aprendem a nadar por diversos motivos, sempre com objetivos e poucas vezes por prazer. Para não morrer afogados em caso mais específico, talvez seja o principal motivo. Depois vem as razões da saúde e, quem sabe, à competição.
Comecei a nadar muito cedo, para enfrentar o medo de piscinas e do mar, foi assim que enfrentei e assumi um dos primeiros desafios da minha vida. Foi ali que descobri que havia uma razão forte em continuar tentando, se não superasse esse medo, o resto dos problemas me engolfariam.
Depois de uma noite de insônia, reflito sobre o que faço (técnica) e penso quando estou nadando, percebi que, quando uso o snorkel, meu nado é um iceberg ou icebergue, como preferirem. Como um iceberg que só aparece 10% do seu volume e se desloca de acordo com correntezas e ventos, deslocado de sua geleira, nado com essas semelhanças. A batida da perna é o meu equilíbrio, os movimentos das braçadas do crawl são formas de enfrentar a resistência da água, não olho para lugar algum, apenas o fundo. A respiração é centrada por um tubo, a inspiração e a expiração percorrem o mesmo espaço, se confundem. Em alguns momentos não sei onde estou, em outros, o nado é politizado e sofrido: guerras, crianças famintas, uma política de oportunistas, a Lei do aborto e o sofrimento das mulheres, e a exclusão das minorias. O poder vingando na mão dos mesmos. Sigo, ou melhor, deslizo pelas águas cloradas que se misturam com águas das minhas lágrimas. Faço um esforço tremendo para espantar pensamentos que me afastam ainda mais da minha “geleira”, a pernada some nessa confusão entre o prazer e o deslizar, afundo. O iceberg é revisitado numa outra perspectiva quando interrompo as braçadas contra “”todas” as mazelas, e a intervenção compulsória para apoiar os pés no fundo da piscina é a única alternativa.
Agora já sei que a natação pode ser terapêutica. Como na vida, insistir na flutuação pode ser um ato político
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