A musicoterapia é utilizada para tratar estresse, depressão e ansiedade
Christina Caron
THE NEW YORK TIMES
A sessão de terapia começa quando Isobell, 17, pega um violão.
Seus dedos, adornados com anéis de prata e esmalte de unha preto, estão posicionados para tocar o primeiro acorde de “Candy Necklace” de Lana Del Rey.
Então, ela começa a cantar. Sua voz é um soprano melancólico e sussurrante que parece flutuar pela sala.A terapeuta de Isobell, Caitlin Bell, a acompanha no piano.
Embora estejam realmente sentadas em uma clínica médica —o Centro Louis Armstrong de Música e Medicina no Mount Sinai-Union Square em Manhattan, Nova York— o espaço parece mais uma sala de estar de um músico, com partituras em exibição e estantes de madeira que revestem as paredes, cada uma abrigando instrumentos diferentes.
A musicoterapia, embora ainda seja uma área relativamente pequena, cresceu na última década. A prática ajuda as pessoas a lidarem com doenças diversas como estresse, dor crônica, mobilidade limitada e hipertensão, e é realizada em uma variedade de ambientes, incluindo hospitais psiquiátricos, clínicas ambulatoriais, centros para idosos e escolas.
Estudos científicos começou a explorar por que a música parece ter um efeito tão forte na saúde e no bem-estar, especialmente na saúde mental, onde os sons podem servir como um canal para elevar o humor de alguém, ajudá-los a refletir e reduzir o estresse, a ansiedade e a depressão.
Quando tinha 14 anos, o tratamento de Isobell para a ansiedade era muito diferente. Na época, ela estava consultando um psiquiatra. Mas depois de experimentar dois medicamentos diferentes, ela sentiu que eles “não estavam realmente fazendo nada”.
Ela estava começando a se sentir desanimada, até que seu médico — sabendo que ela adorava tocar violão e escrever músicas — recomendou que ela experimentasse a musicoterapia.
Nos últimos dois anos, ela tem viajado para o Mount Sinai quase todas as semanas, apesar de sua agenda lotada como aluna do último ano de uma das escolas públicas mais seletivas da cidade de Nova York.
Isobell, que pediu para ser referida apenas pelo primeiro nome para proteger sua privacidade, não toma mais medicamentos.
Cantar cria espaço para liberar emoções que podem ser difíceis de descrever, diz ela.
COMO A MUSICOTERAPIA PODE MELHORAR A SAÚDE MENTAL?
Pesquisas mostraram que adicionar a musicoterapia ao tratamento regular de um paciente, como medicação e psicoterapia, pode melhorar os sintomas depressivos em comparação com o tratamento padrão isolado. Estudos também indicam que o método pode diminuir os níveis de ansiedade e melhorar o funcionamento diário em pessoas com depressão.
Buscando explorar essa conexão, Amy Belfi, professora associada da Universidade de Ciência e Tecnologia do Missouri, projetou um estudo que comparou as memórias evocadas por músicas populares com aquelas convocadas por imagens de celebridades. Ela descobriu que a música era muito mais propensa a trazer detalhes autobiográficos vívidos do que as imagens.
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No transtorno de ansiedade, a preocupação excessiva torna-se um padrão, um hábito tóxico de sensações e pensamentos negativos
“Acho que a música é capaz de provocar essas respostas emocionais que também facilitam a recuperação da memória”, diz Belfi, o que pode explicar por que a musicoterapia pode ajudar a melhorar a cognição e a qualidade de vida em pessoas com demência.
Diferentes estudos descobriram que a música afeta nosso corpo de outras maneiras também. Ritmos rápidos podem ser estimulantes, e músicas lentas ou meditativas podem ajudar as pessoas a relaxar.
Além disso, tanto ouvir música quanto cantar podem reduzir os níveis de cortisol, um hormônio que o corpo libera quando está sob estresse. E o prazer que sentimos ao ouvir música pode produzir dopamina, um neurotransmissor que influencia os centros de recompensa no cérebro.
Por fim, como a musicoterapia é tão interativa — os clientes muitas vezes tocam instrumentos com seu terapeuta ou escrevem letras juntos — ela permite a expressão individual e em um ambiente comunitário, diz Kenneth Aigen, diretor de musicoterapia na Escola de Cultura, Educação e Desenvolvimento Humano da NYU Steinhardt.
Para Kerry Devlin, uma terapeuta musical sênior que trabalha com pacientes gravemente enfermos no Hospital Johns Hopkins em Baltimore, a música é uma ferramenta terapêutica para compartilhar espaço com as pessoas durante alguns dos piores momentos de suas vidas.
Uma sessão pode dar aos pacientes uma sensação de autonomia e ajudá-los a se “reconectar com sua própria humanidade em um ambiente que muitas vezes parece muito estéril e assustador”, diz Devlin.
Ao fornecer cuidados paliativos, por exemplo, ela usa um estetoscópio especial para gravar os batimentos cardíacos de um paciente, depois trabalha com a pessoa e, às vezes, também com sua família para selecionar uma música significativa e adicionar letras ou harmonias personalizadas. “Usamos os batimentos cardíacos dessa pessoa como o pulso rítmico”, diz ela. “Isso é uma parte de sua vida, gravada para sempre, o que é um presente tão especial.”
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