O que a perspectiva da morte me ensinou sobre a vida.
Meses atrás um amigo, amigo mesmo, me pediu livros emprestados, “Carlos, sei que você tem livros que já leu e pode emprestá-los”, mal sabe que tenho muitos e muitos ainda não li, mesmo assim, me prontifiquei em emprestar. “Você me conhece bem, escolha por mim e me avise quando posso buscá-los.” De pronto respondi que não faria isso porque livro é uma coisa muito pessoal, gosto pela literatura é algo que não se discute. Meu amigo insistiu tanto que separei dois livros. Fiquei com preguiça em selecionar algo que seria interessante para ele, peguei dois que estavam próximos de mim.
Um deles, antigo, mas de um autor consagrado, João Ubaldo Ribeiro, “A casa dos budas ditosos”, foi uma leitura agradável, sobre luxúria, e dizem que a autora foi uma mulher. Verdade ou não, o livro foi muito lido e apreciado pela crítica. O segundo, é o título dessa postagem, da autora Suleika Jaouad. Só agora meu amigo vai saber que eu também não li o livro. Estava na fila. Comprei o livro ano passado porque vi um filme do TED com a autora do livro. Instigante a palestra.
Susan Sontang escreveu “todos que nascem têm dupla cidadania: no reino dos sãos e no reino dos doentes.” Suleika, pelo que vi no TED, escreve sobre os muitos anos que passou no hospital tratando de um câncer. Sua história de vida passa por esse momento que é marcante, gerou muitas reflexões sobre o que é a vida. Tão marcante, que meu amigo não conseguiu terminar o livro. “Não é o momento para esse tipo de leitura.”
Essa volta toda para trazer a minha reflexão sobre os “estados” de doença e saúde. Não deixa de ser binário os dois conceitos, estamos doentes ou não. Será que esses conceitos bastam? Ter saúde necessariamente não significa que estamos dispostos a continuar vivos, a doença, pode estar associada a continuar lutando por uma nova chance. A linha que separa os dois conceitos é “porosa”, como fala a autora. As pessoas que mais me ensinaram sobre VIDA são pessoas classificadas como DEFICIENTES. Mostram-se, pelo menos as que conheço e são deficientes desde o nascimento, resolvidas quanto seus estados físicos e emocionais.
Vida e morte, doença e saúde, saudável e deficiente, conceitos que precisam ser discutidos, merecem novas e profundas reflexões. É possível que um amigo “doente” seja nossa inspiração, como é possível também, que o amigo “doente” esteja precisando da nossa companhia.
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