por Sergio Brandão
Não gosto de usar camisa de clube de futebol na rua, mas hoje fui correr com uma das que tenho aqui. Pra minha surpresa poucas manifestações – e todas positivas.
Terminando o treino, faltando uns 400 metros para chegar no pico de Matinhos, segue pela rua um caminhão da coleta de lixo. Visivelmente me provocando, o menino que vai atrás pendurado no caminhão começou a entoar o canto de guerra da torcida atleticana: furacão ê ô, atlético ô ô. Fez isso dançando, de costas pra mim e de frente pro companheiro de trabalho que me olhava meio envergonhado e com um meio sorriso.
Estávamos na mesma velocidade, eu e o caminhão. A provocação seguiu por uns bons metros.
Olho pra ele e chamo: “Venha, vamos fazer um atletiba. Ganha quem chegar primeiro no final do calçadão”.
Ele olha pro companheiro como se pedisse consentimento. O cara dá uma enorme gargalhada e diz “vai! agora quero ver”!
Partimos: eu já com 8 km nas costas, ele provavelmente também, eu de tênis, ele de botina, ele com uns 26, 30 anos, eu com 65. Pensei, são só 400 ou 300 metros. Isso não é nada pra quem já fez 8 km.
Esperei ele emparelhar e sprintei. “ Não posso perder este atletiba” – digo isso trazendo a alma pra perna.
O menino ficou pra trás.
Atravesso a linha de chegada com uma boa margem na frente dele que, além da derrota, passou a ser zoado pelos colegas de trabalho.
Voltei pra cumprimentá-lo com a mão estendida. Ele fica envergonhado. Baixa a cabeça, tira a luva e aceita meu cumprimento. Diz que a mão está suja. Tiro o meu boné e coloco na cabeça dele.” Não tem problema, o meu boné também está sujo”.
Como diz meu amigo Carlos Mosquera, o melhor da corrida é a confraternização.
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