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50 anos do milésimo gol

por Armando Nogueira

“Sua vocação de jogador de futebol é incomparável e se exprime no campo com a mesma espontaneidade da bola que rola; é tão perfeito no criar como no fazer o gol, no drible, no passe, no chute, na cabeçada.

de outro planeta, incomparável

Seja em que circunstância for, Pelé mantém com a bola uma relação de coexistência absolutamente íntima, terna, cordial; por isso é bom goleiro e ótimo goleador; por isso, é capaz de estar, ao mesmo tempo, na concepção e na realização de uma jogada.

Seu talento é do tipo esférico como a bola, o seu brinquedo mágico.

A técnica individual de Pelé não merece um só reparo do mais exigente crítico de futebol: ele domina a bola com naturalidade e perfeição, usando qualquer parte do corpo, notadamente os pés e o peito; tem chute potente e certeiro com as duas pernas; dribla com facilidade e grande arte, valendo-se de incrível poder de articulação nos tornozelos, joelhos, cintura e, sobretudo, graças a uma força instintiva, medular, que lhe permite sair criando movimentos novos, irresistíveis, à base de contrapés, falsas hesitações, meneios e desequilíbrios aparentes.

Usa as faces exteriores e interiores dos pés tanto para o drible e o chute como para fazer passes de efeito; tem espantosa velocidade de partida e de corrida e se eleva para as cabeçadas com uma elasticidade impressionante e com uma noção de tempo que só se vê nos grandes especialistas dessa jogada ( o húngaro Kocsis, por exemplo); tem agilidade felina para recobrar o equilíbrio perdido.

E aqui vale a pena recordar lance recente no jogo Brasil 5 X Argentina 1, no Maracanã.

Pelé recebe a bola na corrida, entra na defesa driblando uma fila de adversários; o último, pressentindo o perigo, aplica uma rasteira que alcança Pelé em pleno ar. Pelé se desequilibra, vai cair de costas, a bola foge ao seu domínio, o juiz apita a falta. Mas eis que no instante do apito, Pelé consegue recobrar o equilíbrio, alcança novamente a bola e restabelece a excelente condição de gol que conseguira.

A essa altura, porém, já o árbitro havia interrompido o jogo e todo o maravilhoso esforço de recuperação de Pelé resultava inútil. Restou-lhe o consolo de ver o árbitro Juan Armental correr na sua direção e pedir-lhe desculpa humildemente, por ter apitado.

Mais tarde, o juiz explicava à imprensa que aquele fora o maior exemplo de agilidade pessoal jamais visto em um campo de futebol nos seus vinte anos de arbitragem.

Por fim, Pelé tem uma capacidade quase irreal de infiltrar-se com a bola defesa adentro. Vai como um raio, dando a impressão ao espectador de que está atravessando os corpos dos adversários.

Temos ouvido tanta gente querendo descrever as infiltrações de Pelé mais ou menos assim: ele ia passando por dentro dos outros. Realmente, o lance é muito rápido e sugere a imagem.
O que ocorre, simplesmente, é que ele realiza a ação em alta velocidade e com notável noção do próprio corpo, que se assegura o mínimo de tropeços, o máximo de equilíbrio e grande fluência na corrida.

Em apenas três anos de prática ininterrupta, Pelé melhorou sensivelmente o seu futebol.
Não tanto do ponto de vista da técnica individual, que nisso ele é perfeito de nascença, mas no plano da ação coletiva.

Antes, Pelé era um atacante, um especialista dos chutes e cabeçadas à porta do gol; hoje ele multiplica sua presença conseguindo ser, com igual eficiência, construtor e finalizador; num momento, Pelé é o arco que aciona e em seguida vai ser a flecha que alveja.

Do ponto de vista moral, ele já se destaca como grande animador de equipes, impondo aos colegas e aos adversários a autoridade indiscutível que vem da alta categoria técnica.
Uma única face de sua forte personalidade não tem evoluído no sentido da perfeição: a serenidade.

Ele perdeu muito daquela ingenuidade com que jogava nos começos da carreira; ficou irritadiço, impaciente. Mas, coitado, tanto sofreu nos pés dos medíocres, tanto lhe deram pontapés que ele hoje deixou de ser aquela força da natureza exprimindo-se puramente, sem amargor.

Antes, davam-lhe um trompaço brutal, ele se levantava, limpava os calções e ia tomar posição de jogo; agora, se o derrubam com deslealdade, ele reclama furiosamente”.

*Texto publicado na revista Senhor, número 21, em novembro de 1960, quarto ano de Pelé como profissional

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Carlos Mosquera
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