“Expedição Amazônia” é a busca do improvável, do inusitado, já que o esperado e planejado buscamos todos os dias das nossas vidas. Não sei muito bem o porquê da Amazônia, mas aqui estou. Máquina e lentes fotográficas, computador, aventura e agarrado nas tranças do desejo, como canta o Zeca Baleiro. Escrevo este sentado em uma rede, viajando de barco pelo rio Amazonas, em busca de novas experiências amazônicas.
No primeiro dia de Manaus, resolvo pegar uma lancha para conhecer o museu do Seringal, uma hora de barco, um passeio conhecido e muito bem divulgado. As instalações originalmente foram usadas como locações para as filmagens do filme “A Selva”, do diretor português Leonel Vieira, que adaptou o livro de mesmo nome do escritor português Ferreira Castro. Como contrapartida do apoio dado pelo Governo do Estado do Amazonas à produção do filme, o cenário foi doado para a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, que o transformou no Museu do Seringal Vila Paraíso
Todo o deslocamento por aqui é de barco, mais difícil e demorado quando os rios estão secos, como agora. Me aventurei assim mesmo, sabendo que seria difícil chegar.
Como sempre acontece, converso com os poucos viajantes que estão ao meu lado, tiro fotos e deslumbro à natureza. Uma das ribeirinhas, depois que fica sabendo do motivo da minha viagem, me pergunta se ouvi falar sobre o “Museu do Índio” em uma vila ribeirinha –Povoado Agrícola Amazonino Mendes – próximo ao meu destino. Curioso, peço mais informações sobre o museu e sou surpreendido quando soube que foi um professor que criou e administra o museu. Não pensei duas vezes, deixei meu destino para trás e sigo mais 30 minutos de barco até a vila que reside o “tal professor e seu museu”. Detalhe importante (anote aí), quando desci da lancha, me avisaram que não sabiam a hora que alguma lancha regressaria a Manaus. Sigo!
A Vila é pequena, no máximo 80 famílias, andei uns 400 metros dentro da Vila até encontrar o museu, como haviam me informado. O percurso é como se estivesse em uma praia quase deserta, poucas casas simples, de madeira, areia por todos os cantos e quase ninguém no meu caminho. Decepção quando encontrei o museu fechado. Uma casa ampla, de madeira, com placas com nomes de pessoas (possivelmente autoridades da região) pregada em cada porta. Uma placa maior, na entrada principal, informando que o espaço é um museu, que guarda achados arqueológicos. Ao fundo dessa casa\museu, uma Oca estilizada, muito bem cuidada, que só depois descubro que hoje em dia serve como um auditório.
Me refaço e resolvo ir à casa do professor. O único morador que encontro no caminho me informa onde fica. Animado como um antropólogo em marte, finalmente encontro a casa e, por sinal, fui muito bem recebido. Pediu para esperá-lo no museu que iria trocar de roupa para conversar comigo. Nos apresentamos e a primeira pergunta foi dele “como você veio parar aqui (interrogação)”. Difícil de responder, mas me esforcei, tampouco sei se entendeu. O encontro pareceu reunião de velhos amigos, o “professor” contando sobre como surgiu a ideia de criar o museu e eu, em fazer perguntas para saber quem era esse homem. São três salas que guardam relíquias dos povos originários “tarumãs” que já habitavam àquela região, talvez os primeiros habitantes de uma área da Amazônica ainda desconhecida. Há também peças originárias da Holanda e outras tantas, todas de séculos atrás que “ainda” não se sabe a origem. Estava, literalmente, sobre um sítio arqueológico, como bem explicou ELIEU, professor de Artes-Filósofo-Educador-Curador da Vida. Conversamos muito, me explicou como tem lutado para preservar e manter o museu em funcionamento. Viagens e mais viagens internacionais para coletar informações sobre os povos que viveram na Amazônia, sobre a persistência de esclarecer aos moradores e alunos da Escola Paulo Freire, da própria Vila, da importância do museu para toda a comunidade. Projetos realizados para concorrer em editais nacionais e estaduais que incentivam essas práticas, são às poucas opções para financiar seus projetos da Comunidade e da vida. É com esse projeto de profissão e de vida que o professor acredita na educação e na transformação.
Fiquei encantado com tudo que esse HOMEM fez e faz com o “seu museu”, já poderia estar aposentado, assim mesmo, faz da sua vida, um pedaço de esperança àquela região, que é muito pobre e esquecida dos poderes públicos. Para mim, uma certeza, de que pessoas como ELIEU Cavalcanti dos Santos são imprescindíveis para nosso país. Prazer em conhecê-lo, meu amigo!
O retorno de lancha merece outra postagem.
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