(…)” Se você sabe que no latim havia a palavra octo e nas línguas românticas temos oito (português), ocho (espanhol), huit (francês), otto (italiano) e opt (romeno), você tem diante de si apenas um conjunto variado de dados. Quando se acrescentam mais informações, porém, o aumento de conhecimento é exponencial. Ao ver que outra forma tardia do latim com o mesmo encontro de consoantes em posição parecida, como lacte, vai gerar naquelas mesmas línguas, respectivamente, as palavras leite, leche, lait, latte e lapt, você começa a perceber uma regularidade nos resultados das transformações ocorridas em cada idioma. Tudo indica que aquele ct do latim tem uma tendência a evoluir de maneira individualizada, mas constante, em cada uma dessas línguas. Você começa a intuir a possibilidade de uma constância, de uma regularidade. Ou para usar outra palavra portuguesa que tem a mesma origem no latim, regula. Você começa a delinear uma “regra”. E se você acrescentar mais formas à sua tabela (derivadas, por exemplo do latim tardio pecto ou nocte), essa regras vão se confirmando cada vez mais.
Até aqui o que você vê é uma espécie de jogo. Divertido. Sedutor. Você se sente capaz de entender a formação do vocabulário das línguas sem nem mesmo ter acesso a todos os dados.
Agora se eu fornecesse alguns derivados de nocte, mas não informasse a palavra em espanhol ou em italiano, você teria condições bem razoáveis de supor, de acordo com critérios objetivos, que elas seriam respectivamente noche e notte. E teria razão. Isso é uma pequena aula do que se chama de raciocínio indutivo. Olhando para dados conhecidos, você postula hipóteses de regras que permitem, a partir daí, prever o que não sabia. Assim, consegue chegar ao desconhecido unicamente com base no conhecido. Descobrir. Aprender.” (…)
Do Livro Latim em pó – Caetano W. Galindo
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