Conversando com dois alunos bolsistas, fora de sala de aula, não demorou muito para um deles me perguntar por que eu não gostava de escrever “academicamente”, ou seja, artigos científicos. Na hora não me veio o texto de Jorge Larrosa (O ensaio e a escrita acadêmica, 2003), mas respondi que escrevo de forma não linear, me “encontrando” durante a escrita (isso não quer dizer que escrevo bem). Quase um clichê, mas gosto do poeta Antonio Machado “Caminhante, são tuas pegadas; o caminho e nada mais; caminhante não há caminho, faz-se caminho ao andar.”
A liberdade de escrita reflete um pouco a liberdade de espírito, de expressar livremente ideias e pensamentos. Ao contrário da escrita acadêmica, que é regulada por normas de escrita, por disciplina, por discussões de temas exaustivamente discutidos. Salve o apud!
“O ensaista é um transeunte, um passeador, um divagador, um extravagante, porém, o mundo acadêmico está ligado, como diz Adorno, à moral do trabalho”. Por isso que orientamos “trabalhos” aos nossos alunos, para o aprendizado virar preocupação. O mesmo com a “grade” horária, uma prisão. Larrosa, explica isso buscando Nietzsche – é semelhante ao trabalhador de fábrica, que durante toda a sua vida não fez outra coisa que senão determinado parafuso para um determinado utensílio, no que sem dúvida tem uma incrível maestria, porém, já não está em condições de ler por prazer.
O ensaio não é escrito “do nada”, há uma orientação, um corpus, no qual possa ser o “seu método” que, a partir dessa bússola, o caminho se organiza, desbravando-se para o leitor se sentir companheiro, de uma forma orgânica.
Se o erudito foi por muitos anos soberano, hoje há espaço para o ensaio. Espero que estas formas de expressão e comunicação possam conviver pacificamente, valorizadas como devem ser.
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