A Espanha tétrica, estimulada pela impunidade, saiu das cavernas
A Espanha racista não é a de Ortega e Gasset, é a de Franco.
É a Espanha de Torquemada, não a de Cervantes. Tampouco é a Espanha de Miguel Unamuno. E a Espanha do general Milán Astray berrando “Abaixo a inteligência, viva a morte!” Não é a Espanha de La Pasionária, de Pablo Picasso, Salvador Dali e Garcia Lorca. É a Espanha dos falangistas, da Divisão Azul que lutou ao lado de Hitler. A Espanha covarde, intolerante, é a que vai para o estádio de futebol não para torcer pelo seu time, mais para soltar seu canto cavernoso e liberar seus instintos mais primitivos de racismo.
E essa Espanha ainda se julga civilizada e de uma raça superior. Sim, os que xingam de “monos” jogadores negros se julgam a raça eleita por Deus, assim como os arianos de Hitler se julgavam uma raça superior.
A Espanha que pela nona vez foi palco de ato racista contra Vinícius Junior é mesma que exterminou Incas, Maias e Astecas. Não é a de Jorge Semprun, Carlos Saura e Santiago Carrilho. Tampouco a de Guardiola, Gento e Iniesta.
Não é a bandeira da liberdade empunhada pelos republicanos na guerra civil espanhola. E a Espanha apoiada pelos camisas negras de Mussolini. E a Espanha franquista.
É o horror de Guernica destruídas pelo bombardeio fascista.
Essa Espanha tétrica só saiu das cavernas para a luz do dia extravasar seu racismo nos estádios de futebol porque se sente estimulada pela impunidade. E pelo silêncio cúmplice de uma sociedade que deixa crescer em seu ventre o mesmo racismo da Alemanha hitlerista. Antes eram os judeus a sub-raça. Agora são os negros.
por Tibério Canuto Queiroz Portela
*Editorial do Diário de Petrópolis
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