Mas a degeneração da memória e do cérebro de forma geral não é uma consequência normal do envelhecimento?
Há um momento da vida em que todo mundo começa a ter falhas de memória. Isso é normal. Mas por que algumas pessoas têm apenas falhas esporádicas e se mantêm lúcidas e ativas em idade avançada enquanto outras afundam na demência até perder a própria identidade? Não sabemos. Busco respostas na forma como nossas células reagem a insultos acumulados ao longo da vida, como o estresse, poluição, infecções, obesidade, sedentarismo, tabagismo.
As demências estão em crescimento no mundo. É uma consequência do aumento da expectativa de vida?
Sim, mas não apenas isso. Sem dúvida, o envelhecimento é um fator essencial e é preciso entender as mudanças que acarreta. Mas envelhecer não significa estar condenado a sofrer demência. Já sabemos que nosso modo de vida influencia a forma como nosso cérebro envelhece. Há fatores de risco, como obesidade, sedentarismo e estresse. Há males da nossa vida contemporânea que causam estresse que não existiam antes e isso afeta o cérebro.
Você destacaria alguns?
A cobrança por aumento da produtividade a qualquer preço, a hiperconectividade, tudo isso gera um estresse permanente para o qual a maioria de nós não tem válvulas de escape.
Pode explicar?
Algumas pesquisas sugerem que no Alzheimer as memórias não são apagadas. Elas estão lá, em algum lugar. É como se estivessem numa sala fechada cujo acesso fosse bloqueado por uma senha. A pessoa com a doença esqueceu a senha. Ela não consegue mais alcançar suas lembranças. Mas alguns estímulos, vez por outra, trazem momentos de lucidez e de lembranças. Já se sabe que alguns pacientes têm a memória parcialmente ativada por música.
Mychael Lourenço foi escolhido como um dos jovens cientistas mais promissores do mundo graças ao seu trabalho de pesquisa sobre neurodegeneração e o Alzheimer
- Trechos da entrevista do OGlobo, 15/01/23 https://oglobo.globo.com/saude/ciencia/noticia/2023/01/envelhecer-nao-significa-estar-condenado-a-sofrer-de-demencia-diz-neurocientista-da-ufrj.ghtml
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