A política e não o político, me fascina, e nem sei explicar o motivo. Ponto. Como estamos vivendo momentos turbulentos na política em nosso país, venho lembrando muito dos meus tempos em que ensinava pessoas cegas a compreender conceitos gerais, principalmente referente ao corpo, para em seguida, se deslocar pelas ruas da cidade.
Os cientistas cognitivos e não os políticos, nos ensinaram que a cognição é corporificada; você pensa com seu corpo, não apenas com seu cérebro. Por exemplo, como posso explicar para um jovem que nasceu cego, o que é falar como o corpo, principalmente com o rosto, se ele nunca viu isso? Para uma criança que enxerga, o aprendizado é espontâneo. Nada é impossível!
Sejamos coerentes (guardem essa palavra), as mensagens que recebemos, disparam outras mensagens/ideias, depois outras tantas, numa cascata crescente de atividades no cérebro. Esse processo é conhecido como ativação associativa. “O traço essencial dessa série complexa de eventos mentais é sua coerência.” Sim, cada palavra ou ideia evoca uma lembrança, assim, formulamos alguns conceitos, que dependem também de emoções, que por sua vez evocam expressões faciais (e os cegos?) e outras respostas.
Os cegos de nascença precisam muito mais estímulos do que crianças que enxergam, mas isso não impede de desejarem e formarem opiniões sobre conceitos gerais. Quanto às expressões faciais, os bem estimulados, conseguem se comunicar bem. Quanto aos videntes, muitas vezes nos acomodamos em “bolhas”, formamos conceitos e ideias que nos trazem conforto e segurança. Lembranças de infância que estão “escondidas” se manifestam em situações impensáveis, se preparam para o futuro. Os psicólogos pensam nas ideias como “nódulos numa vasta rede, chamada memória associativa.”
Tudo isso para dizer que a política desperta sentimentos, mesmo irracionais, que não controlamos, apenas associamos. Sempre foi assim e sempre será. Para mudar o que estamos presenciando hoje em dia, não só aqui, mas mundialmente, será preciso uma reconfiguração dos nossos projetos de vida.
Referência: Rápido e Devagar – Daniel Kahneman
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