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O que uma cadeirante candidata a vice-presidente diz sobre o Brasil

Li um destaque assim, num site de notícias, a respeito da chapa política Simone Tebet (MDB) e Mara Gabrilli (PSDB) para a Presidência da República: “Iniciativa bonita, com chances remotas de vitória”.

Fiquei intrigado com o uso do adjetivo. “Bonita” seria em decorrência de uma formosura das políticas? Penso que não. A ideia era exaltar a união das duas mulheres e, ainda mais, o fato de uma delas ser tetraplégica, condição humana das mais desafiadoras.

Não cabe a mim e a esse espaço discutir se Mara tem predicados para ser uma vice-presidente que o país precisa, mas vale um olhar sobre o feito de o Brasil ter uma postulante cadeirante a um dos cargos políticos mais importantes da nossa democracia.

Cabe também pensar se existe um viés capacitista —o preconceito à pessoa com deficiência—, mesmo que de forma sutil, rondando a candidatura da tucana e sua imagem.O primeiro ponto é que ter uma deficiência não abona —nem desabona— ninguém a nada. Mara, como candidata, precisa responder sobre todo assunto que ronda as responsabilidades do cargo ao qual postula e isso implica conhecer assuntos que vão bem além da assistência social e da saúde.

A cadeira de rodas da tucana não pode ser credencial para que ela não seja, por exemplo inquerida de maneira contundente e incisiva uma vez que ela possa aparentar alguma fragilidade. A aura de “bondade” que circunda a deficiência é pensamento equivocado e só atrapalha no esforço de fazer avançar o olhar social sobre as diferenças.

Mara Gabrilli com a mola que usa para movimentar os braços

De fato, há algo de inédito e de novos tempos em uma chapa que une duas mulheres, uma delas com deficiência, na disputa pelo Planalto. Enxergar isso demanda se despir de conceitos mais do mesmo, da adjetivação rasteira do “bonita”, “simpática” e “fofa” e pensar se há na dupla qualidade técnica, experiência, lisura, competências.

Não é frugal atingir o equilíbrio entre entender Tebet e Gabrilli como uma manobra oportunista em tempos em que a diversidade tem sido um valor muito sedutor, sobretudo na cabeça dos mais jovens e comprometidos com o humano, e como um real fruto de intensa conscientização social de transformação das representações, mas essa situação exige um pensamento atento.

Mara Gabrilli está sentada em sua cadeira de rodas motorizada e sorri. Ela usa vestido florido e sandálias. Ao fundo, uma porta de varanda, vasos de flores e quadros
Mara Gabrilli, em sua casa, em São Paulo (26/03/2016) – Zanone Fraissat/Folhapress

No que diz respeito exclusivamente à pessoa com deficiência, ter um ser com tetraplegia, cuja condição exige uma assistência frequente para demandas básicas —como tirar o cabelo do rosto— tentando ocupar um dos cargos mais cobiçados a nação é um marco histórico, sem dúvida.

Senadora por São Paulo, com votação muito expressiva, Mara rompe o paradigma do cuidado, da assistência, que forja no senso comum a imagem de alguém que seria aparentemente inferior, menos capaz, menos potente, e expõe resultados de produtividade de forma contundente. É só olhar o volume de feitos da danada.

Tem-se, então, uma mulher com deficiência, que necessita ser cuidada, mas que tem a missão de cuidar dos outros, querendo mais, como se vê. Para isso, caso tenha êxito na empreitada, certamente ela já tem consciência que brasileiro nenhum vai querer ter menos ou exigir menos por ela ser uma cadeirante, bonita e sorridente. O eleitor vai querer, sim, seus direitos respeitados e um país num rumo melhor —isso parece mais fácil.

Por Jairo Marques (FSP 17/08/22)

ago 17, 2022Carlos Mosquera
O que eu faço com um marshmallow?MON

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Carlos Mosquera
17 de agosto de 2022 Uncategorized
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