As minorias não precisam mais de leis, elas já foram criadas e aprovadas por maiorias que foram eleitas por maioria dos povos; basta ao sr. cumprí-las
Nem te conto: sabia que muita gente me chama de Jair? Mas, preciso ser franco, me livrei, graças a um valor que o senhor muito propaga, a macheza. Meu pai não deixou no indefinido, não, meteu lá no final do nome um artigo masculino e me tornei foi Jairo.
Mas não quero tomar seu tempo escrevendo sobre essas bobagens das minorias barulhentas, excludentíssimo senhor presidente. Meu intuito é falar sobre questões da maioria, mesmo! A maioria, como o sr. já disse, que é quem manda, que é para quem são as leis e para quem, obviamente, caminha a democracia.
Penso que como o sr. anda muito rápido em seus passeios de moto, de helicóptero e de jatinho, vossa excludência não tem conseguido observar algo importante, mas vou te ajudar: suas ideias, seus pensamentos, sua verborragia e sua truculência discursiva estão representando a minoria, juro. Os tempos mudaram, presidente. Chato, né?
Para o senhor ter uma ideia do quanto o bonde passou e o senhor nem viu, vou dar alguns exemplos. Estava eu chupando um picolé, juro, um picolé, e quando cheguei ao palito lá havia uma dessas transgressões pelas minorias, mas que pela quantidade de gente se deliciando, era uma evidente maioria que apoia e gosta da mensagem.
Estava assim, escrito no palito: “O melhor sabor está em incluir a todos sem distinção.” Parece, excludentíssimo, que são muitos esses das minorias. São as gays, os pretos, os malacabados, os velhos, os periféricos, os povos indígenas… Tenho a impressão que lota um Fusca.
O senhor falou também do lance de essas gentes terem de “se enquadrar”, não é mesmo? Pois cito outra coisa que acredito que passou desapercebida por vossa sapiência.
Em uma importante rodovia aqui de São Paulo —movimentada, viu, presidente?—, instalaram um outdoor, daqueles maiores que sua ilibada moral, enquadrando dois homens de cueca, um deles era preto. Sorriam e pareciam, acredite, namorados!
A maioria aprova esse negócio de as pessoas terem plena liberdade e direito de seguirem suas identidades de gênero e a maioria respeita quem é Jair, quem é Jairo, quem é Jaira e até quem se define como Jaire. Tudo é a realidade da diversidade.
Presidente, tem mais. O Museu do Ipiranga, coisa de velho, né? Mas acho que o sr. deve concordar minimamente que ali existem umas tranqueiras que compõe a alma de origem do Brasil, mesmo que sejam as armas…brancas.
Esculturas protegidas por tecido especial ao lado da escadaria principal do Museu do Ipiranga, cujas obras de restauração foram concluídas Eduardo Knapp –
Então, acredita que enfiaram um elevador naquele edifício histórico? Querem atender melhor —e respeitar o direito— de quem não se vira bem com escadas. Vão receber melhor muito mais gente, vão ser para e pela a maioria.
De fato, excludentíssimo, as minorias não precisam de leis. Pensaram mais rápido que o sr. e já as criaram aos borbotões, aprovadas sempre pela maioria dos congressistas que foram eleitos por maioria dos povos de toda parte do país.
Por Jairo Marques (FSP 19/07/22)
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