Lembro que na morte de meu pai (há 14 anos), escrevi um texto como despedida e o título era “Ontem não fui correr”, deixar de correr foi, na ocasião, uma entrega, uma pausa para reflexão. Abandonar crenças (viés de crença), pelo menos tentar, já que sabemos que nossa relação intuitiva com estas, é extremamente grudenta. Quem sabe naqueles dias começou o “abandono” de algumas certezas. É certo que outras pessoas próximas também partiram, e como não poderia deixar de ser, muitas outras reflexões sobre a “passagem” também sobrevoam meus horizontes.
Ana Claudia Q. Arantes, uma estudiosa sobre o comportamento das pessoas “antes de partir”, no seu livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, usa uma metáfora do muro para falar sobre a morte. Caminhamos por muitos quilômetros e pelo mundo até que nos deparamos com um muro. “Ao chegarmos ali, não há como voltar ou escalar. Só podemos olhar para trás. O que norteia nosso caminho e nos impele a fazer boas escolhas é a certeza de que, quaisquer que sejam nossos caminhos e escolhas, o muro nos aguarda.”
Não sei se um muro, um anjo ou um beijo, sei apenas que caminhamos para este final. Lendo alguns textos sobre este assunto, percebo o quanto estamos distantes de uma relação próxima da morte, como se ela nunca fosse aparecer. O chamado “sofrimento de indeterminação.” É de longe um assunto ignorado em qualquer roda de conversa, principalmente na família. Creio no poder da palavra, da aprendizagem, das razões do viver e do morrer.
A simplicidade de encontrar o “dia”, seja como for, deve ser um aprendizado durante o caminhar. Por que não se preparar para a velhice e para a morte? Por que tratar esta fase da vida como triste e doentia? Se nos preparamos para a competição da vida, por que não para a eternidade? Se não existe fórmula para isto, quem sabe podemos optar pela simplicidade e entrega.
**Na semana passada não fui correr
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