Quero retomar o tema dos surdos já que no início da semana comentei sobre o filme “O som do silêncio.” Andrew Solomon escreve uma obra prima sobre as Pessoas com Deficiência ” Longe da Árvore” -, nem sempre o fruto cai próximo da árvore. Não é um livro técnico, muito menos uma história sobre as PcD. É um tratado, uma bússola, mesmo quem não trabalha na área ou não tem proximidade no assunto, deveria ler. Nos aproxima da sabedoria e da intimidade das nossas fragilidades. Uso recortes do livro para expor uma pouco mais o tema.
(…) Em inglês a palavra ” Surdo” com inicial maiúscula refere-se a uma cultura, distinta de surdo, que é um termo patológico; essa distinção se parece como aquela feita nos Estados Unidos entre ” gay” e ” homossexual”. Um número crescente de pessoas surdas sustenta que não escolheria ouvir. Para elas, a cura – surdez como patologia – é execrada; a adaptação – surdez como deficiência – é mais palatável; e a celebração – Surdez como cultura – supera todas.
A declaração de são Paulo, na carta aos Romanos, de que “a fé provém de ouvir” foi mal interpretada por muito tempo no sentido de que aqueles que não podiam ouvir eram incapazes de ter fé, e Roma não permitia que ninguém herdasse propriedade ou título se não pudesse se confessar. Por essa razão, a partir do século XV, algumas famílias de linhagem nobre passaram a fazer a educação oral de seus filhos surdos. A maioria dos surdos, no entanto, tinha de contar com as línguas de sinais básicos que podia formular; em ambientes urbanos, essas linguagens evoluíram para sistema coerentes.
Em meados do século XVIII, o abade De L´Épée buscou uma vocação entre os surdos pobres de Paris e foi uma das primeiras pessoas não surdas a aprender a língua deles.”
A história não foi tão linear assim, foram muitas lutas e retrocessos, muitos sofreram e outros nem tanto, mas os espaços foram conquistados. Não que ainda não precisemos continuar “gritando e ocupando espaços” , mas sinais de conquistas são claros.
Deixe um comentário