Como mesmo? Os deuses criaram os homens à sua imagem e semelhança? Talvez, mas com a ajuda de Procrusto, que sempre dava um jeito de “alinhar” os “desalinhados.” Procrusto fazia os transeuntes “desalinhados” deitar na sua cama e os amarrava, sem chances de se manterem “diferentes.” Usava um facão para amputar as pernas daqueles que ultrapassavam o tamanho da cama. O contrário também era factível: distendia a força as pernas menores. Assim, ao saírem da “cama Procrusto”, todos estavam “alinhados”.
Procrusto, que na verdade tinha duas camas de tamanhos diferentes – a pequena para os grandes e a grande para os pequenos -, foi morto por Teseu, que o deitou atravessado numa delas e lhe cortou os pés e a cabeça. Coisas da mitologia. Mas com essa historinha é mais fácil entender o nosso passado, repleto de exclusões e idiossincrasias, como também de deuses mitológicos.
Do abandono à eliminação, do sacrifício ao prejuízo, até serem chamados de “filhos de Deus” – assim os cegos passaram pela história. Essa “história” foi contada e recontada. Mesmo assim, até hoje não ficamos sabendo como alguns cegos sobreviventes fizeram para permanecer longe de todo o preconceito da época e superaram todo o ódio humano. Como o poeta Homero, pobre e cego que nos legou a Ilíada e a Odisseia. O mesmo ódio talvez tivesse deixado Galeno perplexo ao saber que a pessoa com deficiência (PCD), hoje, é um indivíduo diferente de sua época. E que a retina do olho descrita por ele, não é uma malha ou rede, como imaginava: é um tecido nervoso transparente e fundamental para nossa visão.Mas a história é contada assim, de achados arqueológicos a passagens bíblicas e tantas outras formas de comunicação, que nem sempre são verdadeiros. (…)
*Este é um recorte da apresentação do livro Deficiência Visual: do currículo aos processos de reabilitação de minha autoria
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