Quem sou eu, de onde vim e para onde vou, é precisamente um dilema que acompanha os Homens, no sentido de gênero humano, portanto, constituído necessariamente por
homens e mulheres, desde os primórdios das civilizações.
Responder para onde vou, nas pegadas das prescrições das “receitas” previstas na bíblia judaico cristã, parece mais simples. Aqui, não resta outra alternativa,
se não arder no fogo do inferno ou aguardar pacientemente e subir ao céu e sentar a direita de Deus pai todo poderoso.
Se é que eu posso e devo considerar uma vantagem, de acordo com os ensinamentos dos “velhos” prescritos do velho testamento, como os “novos” “receituários” do novo
testamento, iniciado com o criador da “pedagogia” Cristã, aqui, eu tenho pelo menos a minha disposição o livre arbítrio e com ele o direito de escolher, entre seguir
o diabo e acabar na fogueira do inferno, ou seguir Jesus Cristo e junto com ele ascender ao céu e sentar a direita de Deus, único lado e lugar onde nós podemos ficar.
Já, de onde vim, a resposta não é tão simples como parece. Se eu parto do pressuposto que Deus criou tudo, isso me daria o direito de indagar quem criou Deus?
Como Deus está a cima de tudo e de todos, por segurança, é melhor ficar na minha.
Então, como este mistério não está em questão neste momento, parece melhor “crer” e aceitar sem reservas que nossos progenitores são obra de Deus, na figura do masculino
feito do barro e do feminino feito do osso da costela de Deus, como modelador de toda a lama de onde nascemos, para depois retornar transformados na metamorfose
de humanidade podrificada. Entretanto, independentemente do fato de que se foi Deus ou não o criador de tudo, resta evidente que a resposta sobre de onde eu vim,
do ponto de vista puramente
biológico, só pode estar no ato sexual praticado entre meu pai e minha mãe.
Aliás, se eu sou inicialmente o resultado de um ato sexual (uma foda) praticado por um homem e uma mulher, de um lado, eu já não seria o resultado puro da biologia,
visto que meu pai e minha mãe já não eram mais simples animais, seja pela tese de que eles são obra do criador ou de que eles são o resultado de evoluções biológicas.
Do ponto de vista dessas duas teses, concretamente falando, parece evidente de onde eu vim e para onde eu vou. Na obra de Deus, existe matéria biológica, ainda que
seja ele o próprio criador. Para se chegar a Deus, depois da morte, também é necessário passar por uma fase de decomposição da matéria, retornar ao pó, para somente
depois como matéria orgânica transformada em matéria fluídica (energia), na forma de espírito percorrer um caminho e chegar lá no alto e, sempre a direita, poder
desfrutar das “delicias” oferecidas por Deus, como recompensa dos nossos sacrifícios e sofrimentos aqui neste mundo material.
A tese da evolução biológica, também não me deixa ou não me dá outra alternativa, a não ser nascer do encontro de dois materiais biológicos, para aqueles que conseguem,
viver um determinado período para depois também retornar ao próprio mundo material, como matéria em decomposição.
Portanto, seja na forma de matéria orgânica ou na forma de matéria invisível (biológica ou física), seja pelas explicações das ciências ou seja pelas explicações
das diversas vertentes religiosas ou pelas várias vertentes espiritualistas, com os conhecimentos já alcançados pela humanidade, parece claro de onde viemos e para
onde vamos.
Aparentemente, a dúvida ainda existente sobre de onde viemos e para onde vamos, reside no fato de que nem as explicações das ciências e nem as explicações das vertentes
religiosas/espiritualistas, conseguiram convencer e se convencer de que uma delas encontrou a “verdade” em Deus ou no universo, nas suas mais diversas formas de
matérias ainda desconhecidas.
Por isso, enquanto as ciências não conseguirem demonstrar, de forma cabal e definitiva, que Deus é uma invenção humana, por tudo o que as religiões e os espiritualistas
já fizeram no mundo, desde suas raízes brotadas e fincadas na terra, persiste a forte e dominante ideia de que nós somos obra de Deus e nosso destino final será
sempre ao seu lado lá no alto, ainda que depois de mortos nós sejamos lançados para o fundo da terra, junto com os demônios.
Para alguns, resta crer e esperar que no resgate do dia do juízo final, eles estejam entre os escolhidos por Deus. Nesta pegada, nem mesmo no projeto de Deus, todos
serão eleitos (selecionados) e poderão fazer parte do reino dos “iluminados”. Deste ponto de vista, o reino de Deus não é diferente dos “reinos” dos homens e mulheres
feitos da lama do criador ou da natureza.
Para mim, porém, o juízo final chegará no dia da minha morte. Com ela, também estará sepultada a dúvida sobre de onde eu vim e para onde eu vou.
Aliás, a morte é verdadeiramente o único lugar seguro onde todas as diferenças realmente deixam de existir. Somente na morte parece possível pensar um projeto verdadeiramente
inclusivo. Se a morte não é democrática no nascimento e ao longo da vida das pessoas, ela é na chegada final, no momento do último suspiro.
Por: Enio Rodrigues da Rosa.(Diretor do Instituto Paranaense de Cegos – IPC)
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