Se estamos com saudades de 2019 ou mesmo, se estamos paralisados pelos acontecimentos recentes, ninguém pode afirmar nada. As manifestações americanas dessa semana também marcaram nossos corações. Um momento único, uma salada de sentimentos, um acontecimento histórico que talvez ainda não absorvemos. Inclusive o racismo explícito de uma parte da população. Sobre isso, deixo alguns recados para não esquecermos o quanto precisamos melhorar.
(…) O que é racismo e sexismo, que não são mais do que a ideia do clone entre muitos? É a ideia de que existe uma essência própria a cada raça, a cada sexo, da qual os indivíduos são inteiramente prisioneiros. O racismo diz que ” o africano é jogador”, ” o judeu, inteligente” , ” o árabe, preguiçoso”, etc., e só com o emprego do artigo “o” sabe-se que estamos lidando com um racista, um ser convencido de que todos os indivíduos de um mesmo grupo partilham a mesma “essência.”
O mesmo vale para o sexista que facilmente pensa que está na “natureza” da mulher ser mais sensível do que inteligente, mais terna do que corajosa, para não dizer ” feita para” ter filhos e ficar em casa, grudada no fogão…
É exatamente esse tipo de pensamento que Rousseau desqualifica, destruindo-o na base: já que não há natureza humana, já que nenhum programa natural ou social pode prendê-lo totalmente, o ser humano, homem e mulher, é livre, indefinidamente perfectível, e não é absolutamente programado pelas pretensas determinações ligadas à raça ou ao sexo.
(…) é verdade, e mesmo indiscutível, que pertenço a um meio social e sou homem ou mulher (ou quem quer que seja), do ponto de vista filosófico essas qualidades não são comparáveis às dos softwares: elas deixam, para além das pressões que impõem, sem dúvida, uma margem de manobra, um espaço de liberdade.
E é essa margem, esse afastamento que é próprio do homem que o racismo, nesse aspecto ” desumano”, quer, a qualquer preço, eliminar. (…)
Ref: Do livro Aprender a Viver – Luc Ferry
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