Para quem é da minha geração já leu ou ouviu falar do livro “Zen e a arte da manutenção de motocicletas” de Robert M. Pirsig. O livro estava com a minha filha e depois de muitos anos voltou à minha estante. Folhando as missivas para entender um pouco o que as Escolas e Universidades estão passando, encontro na pg. 192 a seguinte mensagem – talvez explique um pouco o que todos estão vivendo com o ensino….
(…) Para muitos estudantes, a retenção de notas criou uma situação kafkiana: eles sentiam que seriam punidos por deixarem de fazer alguma coisa que ninguém lhes dizia o que era. Olhavam para si mesmos, não viam nada, e também nada viam ao olhar para Fedro. Então, ficavam ali, indefesos, sem saber o que fazer. Houve até uma jovem que sofreu um colapso nervoso. Não se pode eliminar as notas e deixar que as pessoas fiquem mergulhadas no vazio, sem objetivos. É necessário fornecer à turma um propósito que preencha esse vazio. E isso ele não estava fazendo.
Ele não conseguia. Não conseguia encontrar nenhum modo possível de lhes fornecer um objetivo sem cair na armadilha do magistério autoritário e didático. Mas como colocar no quadro-negro o misterioso objetivo íntimo de cada indivíduo criativo?
No trimestre seguinte, ele desistiu daquilo tudo e voltou à avaliação comum, desanimado, confuso, achando que estava certo, mas que, por alguma razão estranha, havia fracassado. Quando numa turma despontavam a espontaneidade, a individualidade e trabalhos bons e originais, tudo ocorria apesar do ensino, não por causa dele. Parece que isso fazia sentido. Ele estava a ponto de desistir de tudo. Ensinar aquela mesmice tradicional para estudantes chateados não era o que mais queria na vida.
Ele ouviu falar que o Reed College, no estado de Oregon, retinha as notas até a graduação; esteve lá durante as férias de verão, mas descobriu que o corpo docente estava dividido quanto à validade da retenção, e que não havia ninguém completamente satisfeito com o sistema. Passou o resto do verão deprimido e apático. Acampou algum tempo com a esposa nessas montanhas. Ela lhe perguntava por que se mantinha assim tão quieto o tempo todo, mas ela não sabia como explicar. Ele simplesmente parou. Ficou esperando por aquele cristal semeado de pensamentos que solidificaria tudo de uma só feita (…)
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