
Com a idade avançando, meu sono e meus sonhos despencam, literalmente. Nesses dias, rolo na cama como uma bola de boliche, e enfrentar o dia é um “loss” (dano). Nas noites em que consigo sonhar, me transporto para lugares paradisíacos, algo que remete à teoria de Descartes (1596-1650), aquela antiga ideia de que a mente pertence a um domínio separado do corpo, conhecida como dualismo. Diferentemente de António Damásio (em O Erro de Descartes, 1994), ao acordar desses sonhos “elegantes”, sinto que fui transportado para outras esferas. Sim, não é preciso dizer que os bons sonos são reparadores.
Para contextualizar melhor minha alma viajante: “Hipócrates e Herófilo localizavam a alma no ventrículo do cérebro; Demócrito e Aristóteles, espalhada pelo corpo; Epicuro, no estômago; os estoicos, dentro do coração e ao seu redor; Empédocles, no sangue; Galeno pensava que cada parte do corpo teria sua própria alma; e Strato a localizava entre as sobrancelhas”. Quando perco o sono, acho que minha alma está triste comigo, embora nunca tenha descoberto o motivo. Quando sonho, sinto que “ela” dorme ao meu lado. Afinal, também tenho o direito de opinar.
Depois dos anos 80, a neurociência finalmente resolveu essa discussão superficial que permeava a ‘alma’ dos “doutores”. Os estudos indicaram e ainda indicam como “nosso cérebro gera uma perspectiva subjetiva que podemos usar reflexivamente ou relatar a outras pessoas”. Portanto, agora tenho mais e melhores respostas para minha insônia, mesmo que ainda não consiga solucionar completamente a perda do sono. Enquanto isso, fico torcendo para que minha alma viaje comigo todas as noites.
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