Anos atrás ganhei um quadro, bordas de madeira e um vidro emoldurando o quadro. No vidro, imagem de uma taça e garrafa de vinho. Sem ninguém me avisar, achei que o espaço oco do quadro (entre o vidro e o fundo do quadro), era a oportunidade para guardar rolhas de garrafas de vinho que viesse a consumir. Simples, uma decoração convidativa.
Não demorou muito e a missão estava cumprida, preencher todo o espaço com rolhas diversas de tamanho e formato, nada mais que atrapalhasse o objetivo do presente. A diversão se assemelha ao “cofrinho do porquinho”. Lembro da infância quando ganhávamos um “porquinho” de plástico, vazio, lógico, e a intenção dos pais era que usássemos a ludicidade travestida de obrigação para guardar as moedas que ganhávamos nos dias festivos ou nas tarefas extras de limpeza da casa. Hoje seria como trabalho infantil, ou algo semelhante. Era divertido, todas às crianças faziam competição para saber quem guardava mais moedas, não importava o total arrecadado, e sim, a velocidade em poupar. Todo movimento da rolha entrando no quadro, me vinha à mente a poupança no porquinho.
Um dia desses, olhando para o quadro – sim, tomando vinho – fiquei imaginando que poderia ser diferente. Poderia guardar rolhas coloridas, mensagens de eventos que me fizeram bem, imagens de pessoas maravilhosas da minha vida, lembranças de viagem, iconografias, material pictórico, impressão digital, lembranças de cheiros, texturas acolhedoras, enfim, lembranças.
O conjunto de lembranças reforçaria a força dos momentos, ajudaria a não esquecer o que me deixou mais humano e do valor das coisas simples. Poderia ter acesso ao quadro a hora que precisasse, recorreria sempre que os momentos especiais estivessem se esvaindo do meu caminho. Ajudaria muito, creio.
Enquanto não mudo de estratégia, toda vez que olho para as rolhas, me dá vontade de abrir mais um vinho.
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