Tenho certeza que o esquecimento de muitos episódios da minha vida, principalmente na infância, colaborou com o pouco da minha sobriedade. Nem tudo esqueci, um em especial me atormenta e depois afaga quando percebo que os “lobos” estão por perto. Era um iniciante em competições de judô, por volta dos dez anos, meu pai ansioso na arquibancada torcendo para o “medalhista” que seria o futuro campeão mundial da modalidade. Mal sabia que havia passado à noite acordado e mijando de medo. Sim, cara pálida, perdi a primeira luta e não havia mais condições de continuar na competição. Meu pai me consolou, com aquela cara de, se agarre no estudo meu filho.
Esse episódio da minha vida atlética sem medalhas quando me aparece em momentos de reflexões “Freudianas” e principalmente em eleições políticas, lembro de uma história que meu avô contava. Era uma aldeia pequena, mesmo assim, um garoto bronzeado e bonito conseguia sobressair nas atividades esportivas que participava. Para aparentar mais do que podia, vivia com as medalhas penduradas no peito. Um dia, continuou meu avô, um lobo chegou à aldeia, e as crianças, trêmulas, correram, se esconderam e ficaram o mais quietas possível. “No entanto, o lobo encontrou o garoto atleta e o comeu. Porque dava para ouvi-lo. O animal ouviu as medalhas dele tremerem”. Concluiu meu sábio avô. “É isso que acontece quando você ganha tudo e imagina que finalmente esteja seguro. Na verdade, está mais vulnerável do que nunca. Dá para ouvir suas medalhas tremerem”.
A lembrança da história me consola a falta de medalhas do esporte e da vida.
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