Escrevi com mais duas colegas da Universidade um ensaio sobre Percepção Visual, a proposta da escrita foi apresentar ao leitor o conceito de ‘cegueira perceptiva’. Já comentei neste espaço muitos exemplos da ‘cegueira’. Usamos um estudo americano “Gorilas entre nós” (tradução livre) (Simon & Chabris, 1999), que comprova a ‘cegueira’ quando nossa visão é muito concentrada.
A metodologia era a seguinte: Os estudantes universitários assistiam um filme que pessoas de camisas brancas e pretas que passavam uma bola de basquete entre eles. A tarefa era contar o número de passes que as pessoas de branco passavam a bola. Só que no meio do filme, uma pessoa disfarçada de gorila, invade a cena, passa no meio da sala e bate a mão no peito e vai embora. Na checagem do resultado, a metade dos alunos observadores não viram o gorila, mas acertaram a contagem de passes. A concentração foi total. Por que eles não enxergaram o gorila?
Aprendemos a enxergar assim, visão focada. Diferente de uma visão ‘flutuante’, que oferece espaço inclusive para enxergar os “gorilas”. A discussão sobre esse resultado não pode ser simplista, até porque o trabalho é científico. Mas uma coisa é certo, quanto mais comprometemos o olhar, menos enxergamos. Essa visão, ou, esse jeito de enxergar, que aprendemos em casa e na escola atende necessidades específicas, uma olhar ‘mecânico’. O ‘olhar fluído’ que é despretencioso, nem sempre mais efetivo, pode enxergar outras percepções, quem sabe, mais acolhedoras e interessantes.
Isso não se aprende na escola, infelizmente, é com a vida e com outros interesses.
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