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Quando barulho de chuva dá medo

Os efeitos dos traumas sobre os indivíduos e a coletividade

São Paulo amanheceu debaixo de uma chuva que poderia ter sido recebida com alívio diante da estiagem que a precedeu. O barulho ritmado que costuma servir para embalar o sono só trouxe mau presságio e aflição. São imagens da tragédia no RS que nos vêm à memória, como se pudéssemos ser transportados para o tempo e para o espaço no qual nossos conterrâneos ainda temem por suas vidas.

E aqui a vida não diz respeito só ao risco de morrer, mas da perda de uma experiência que nunca mais será a mesma, perda de uma forma de existência.

A elaboração individual do luto, no entanto, não aceita justificativas. Uma mãe que perdeu a filha no parto me diz: “Não quero negociar minha dor com a vontade Divina nem com a explicação médica. Quero o direito de sofrer sem ser consolada, apenas escutada”.

Vivemos em uma sociedade que diante da perda busca uma fórmula mágica de negociar com o imponderável. Ora negando o acontecido, ora inventando alguma vantagem que dele possa advir.

Mas aqui não há compensação possível, apenas a amarga convicção de que a devastação poderia ter sido evitada ou drasticamente reduzida. Neste caso, a responsabilização é a única forma para que a tragédia não se repita.

Não há nada edificante em perder seus parentes, amigos, animais de estimação, sua casa, seus objetos-memória, sua cidade. O que edifica são as relações entre nós e a forma como podemos reconhecer a experiência de cada um quando tudo parece perder o sentido.

O trauma, por definição, é o acontecimento que nos pega desprevenidos. Ele rompe com nossa crença na continuidade dos eventos e abala nossa fé no devir. A partir daí passamos a viver num estado de permanente alerta, na esperança de não sermos surpreendidos novamente.

Em tragédias coletivas vive-se uma dupla experiência. Por um lado, não importa para onde se olhe, todos estão sob o efeito do horror e, portanto, os recursos se tornam parcos. Por outro lado, a sensação de cumplicidade, de fazer parte de uma ação conjunta pelo bem de todos, tem efeitos positivos. Ao invés do lugar de impotência da vítima, cada um pode, em dado momento, sentir que apoia os demais.

Jéssica Amaral joga com outros três amigos no abrigo provisório montado no Clube Grêmio Náutico União, em Porto Alegre, onde vivem atualmente 250 pessoas

Jéssica Amaral joga com outros três amigos no abrigo provisório montado no Clube Grêmio Náutico União, em Porto Alegre, onde vivem atualment Bruno Santos/FolhapressMAIS 

    Tragédias coletivas precisam ser elaboradas individual e coletivamente, pois a memória do que se perdeu só poderá ser preservada em comunidade. Reconstruir o RS não é apenas a tarefa hercúlea de reconstruir seus prédios, mas de construir cada história de sofrimento, compaixão e heroísmo testemunhada. As próximas gerações só conhecerão a sua terra se conhecerem um dos capítulos mais lancinantes de sua história. Algo para se discutir nas famílias e nas escolas.

    A tragédia está no gerúndio, como comentou Natuza Nery, e requer um fôlego que as campanhas de auxílio, passada a comoção midiática, não costumam ter. O atendimento à saúde mental tampouco prescinde do tempo de elaboração, que não responde às demandas de produtividade capitalista.

    O estado tem seu próprio serviço de atendimento à população, com profissionais que conhecem as necessidades próprias da região. São eles que devem nos guiar para melhor atendermos suas necessidades e ajudá-los. Lembremos que as mazelas de classe, de gênero, étnicas e etárias (mais novos e mais velhos) são potencializadas nessas situações.

    O RS vai se reerguer e com ele, espero, a conscientização de que estamos na mira dos desastres climáticos.

    Muitos são os gatilhos de uma ansiedade que tem por função nos manter alertas. Aproveitemos esse mecanismo de defesa para confrontar riscos anunciados.

    Por: Vera Iaconelli (FSP 28/05/24)

    maio 28, 2024Carlos Mosquera
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