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Graça de Dave Chappelle só existe com a exclusão e beira a sociopatia

Especial ‘Sonhador’ é uma hora de escárnio, de exibição chula e rasteira, só possível de existir pela falta de representatividade

Tenho estômago bom para piadas ruins, mesmo as mais degradantes. Também defendo as liberdades de dizer e de fazer graça com qualquer tema, incluindo o dos “malacabados”.

Como pessoa com deficiência, avalio que ocupar os espaços implica estar no humor, normalizar o riso –e envergonhar a falsa benevolência— sobre nossas formas de estar no mundo.

Dave Chappelle Sonhador
Dave Chappelle em arte de divulgação do especial de comédia ‘Sonhador’, da Netflix – Divulgação

Dito isso, o que assisti no especial de Dave Chapelle passa ao largo do que avalio como diversão, como momento de deixar soltos os freios das chatices da vida e desabrochar-se em gargalhada. O que vi foi quase uma hora de escárnio, de exibição chula e rasteira, só possível de ainda existir pela plena falta de representatividade de grupos diversos em todos os setores e cenários sociais.

O próprio humorista exalta sua plena liberdade de ultrajar, inferiorizar, praticar o preconceito e humilhar pessoas com deficiência porque elas “não são tão organizadas” para criar problemas a ele e mal conseguem chegar a uma casa de show, onde são colocadas em locais péssimos –aqui, uma certa ironia com alguma inteligência.

Chapelle imita trejeitos e características de pessoas com questões motoras como atitudes de algumas crianças que praticam bullying e chega a falar que seria interessante currar um parlamentar cadeirante dos Estados Unidos, pois ele nada sentiria. A piada provoca na plateia uma euforia tosca, parecida a de um circo de horrores. Parecem todos ausentes de qualquer senso de humanidade, afinal, é só um show de stand-up.

Dave Chappelle se apresenta no Madison Square Garden, em Nova York

Dave Chappelle se apresenta no Madison Square Garden, em Nova York Eduardo Munoz/ReutersMAIS 

Um especial de humor desse nível só chega a nossa TV porque a exclusão persiste em todas as pontas que geram uma produção como essa, do contratante ao diretor, do roteirista ao dono da casa de espetáculo, do operador ao CEO da plataforma de streaming.

A graça contra um grupo minorizado se perpetua na ausência de seus representantes para comunicar que aquilo machuca, macula, inferioriza, amarga a existência e tem traços criminosos, afinal, capacistimo é crime.

Como parte de sua obra bizarra, o humorista ensaia graça tosca, mas de maneira bem mais pontual, com dose homeopática, contra mulheres, negros e gays, com apelos um pouco mais abrangentes que características físicas, afinal, os tempos mudaram… Só não para as pessoas com deficiência, pessoas trans, pessoas em situação de rua e dependentes químicos.

Um homem é detido após atacar o humorista Dave Chappelle durante a sua apresentação no festival de stand-up Netflix Is A Joke no Hollywood Bowl, em Los Angeles, nos EUA

Um homem é detido após atacar o humorista Dave Chappelle durante a sua apresentação no festival de stand-up Netflix Is A Joke no Hollywood B Dale Earnhard/Via ReutersMAIS 

Rir das próprias desgraças pode ser libertador e encorajador. Pode chamar atenção para situações dramáticas, fazer adeptos a causas duras por meio de gargalhadas. Explorar o outro diante suas fragilidades de reação, enxovalhar seu modo de ser é sociopatia.

Por Jairo Marques (FSP)

DAVE CHAPPELLE: SONHADOR

  • Onde Disponível na Netflix
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Dave Chapelle
  • Produção EUA, 2023
  • Direção Stan Lathan
maio 6, 2024Carlos Mosquera
Poeminha de domingoSíndrome de Balint

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Carlos Mosquera
6 de maio de 2024 Uncategorized
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