Uma história bem contada ajuda a entender a realidade. Sobre os cegos são muitas. Toda vez que me reúno com alguns deles, amigos de longa data, inevitavelmente às histórias aparecem e gargalhadas servem como aprovação. Pretendo reunir estas histórias em um próximo livro.
A história da primeira escola para alunos com deficiência também nos ajuda a compreender o processo histórico, com suas dificuldades e avanços. Já escrevi isso nos meus livros, não custa contar novamente, certamente não será igual as anteriores.
Começo do séc. XIX a Europa já vivia uma perspectiva de atendimento escolar aos deficientes, não como hoje, mas já servia como laboratório. Pressionados por outros países, o Brasil Imperial começava a se assustar com a repercussão do nosso atraso escolar. Talvez a primeira citação em nosso país sobre a necessidade de educação para “todos” tenha sido o projeto de Lei do deputado Cornélio Ferreira França, na província da Bahia, na Assembleia de 1835. A Lei faz referência à criação do lugar de professor de primeiras letras para o ensino de cegos e surdos-mudos na capital do Império e nas capitais da província. (Os principais autores de referência sobre este assunto – Mazotta, Januzzi, Rocha e Gonçalvez). Enfim, o projeto não é aprovado e o assunto é ignorado.
Historicamente sabe-se que dia 12 de setembro de 1854, D. Pedro II inaugurou o Imperial Instituto de Meninos Cegos, hoje chamado de Instituto Benjamin Constant (IBC). Essa escola ainda existe, está no bairro da Urca, no Rio de Janeiro. Uma construção elegante e chamativa pela sua beleza e história. Além do IBC na Urca, temos a casa do Roberto Carlos e o bar do murinho, onde se compra uma cerveja, atravessa uma rua e se acomoda no murinho na frente da baia para ver o pôr do sol. Inesquecível!
Voltemos ao IBC, onde o jeitinho brasileiro faz escola. Me pergunto, por que uma escola para deficientes visuais? Uma das hipóteses é que o médico particular de D. Pedro II, Dr. Xavier Sigaud, tinha uma filha cega, Adéle, e, segundo fofocas, foi o pontapé para a construção da Escola. Daí para frente é história de historiadores. A dos apócrifos é mais fiel e interessante.
Mesmo com atraso tivemos o primeiro impulso para a educação especial, foi o começo do que hoje vivemos.
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