O COI transformou o breaking em esporte olímpico. Por que não também o samba e a balalaika?
As Olimpíadas de Paris, em 2024, terão uma nova categoria em disputa: o breaking, a dança acrobática ao som do hip hop, criada pelos garotos de boné ao contrário nas ruas do Bronx, em Nova York, na década de 1970. Que o breaking é uma dança, não se discute. Acrobática, nem se fala. Mas será um esporte? E, se for, por que nunca incluíram o jitterbug entre as modalidades olímpicas? Era também uma dança acrobática, tão atlética quanto o breaking, praticada desde os anos 1930 nas ruas do Harlem, em Nova York, até ser adotada pelo rock and roll dos tempos da brilhantina. Como diria João Saldanha, se breaking for esporte os jornais deviam falar de São Jorge na página de turfe.
Da mesma forma, se o breaking for esporte, por que não o samba, como praticado pelos nossos incríveis passistas, ou a balalaika, em que russos de bombacha dançam de cócoras e de braços cruzados? E, se temos competições de ginástica rítmica, por que não de bambolê?
Há também um desequilíbrio: se o esqui e a patinação disputam quatro modalidades e o ciclismo, cinco, porque o futebol só tem uma, o futebol propriamente dito? Por que não incluir o futevôlei, em que somos craques, e o futsal? E, já que o COI às vezes é tão liberal, por que não o futebol entre solteiros e casados?
Uma novidade olímpica recente é a escalada, que Nelson Rodrigues chamaria de subir pelas paredes como uma lagartixa profissional. A escalada, de fato, tem mais a ver com o esporte, e recomendo a seus praticantes que assistam a “O Homem-Mosca” (1923), em que Harold Lloyd escala por fora um arranha-céu de Nova York e fica pendurado no relógio do último andar. Detalhe: na vida real, Harold não tinha o polegar e o indicador da mão direita.
João Ubaldo Ribeiro dizia que, depois de certa idade, calçar as meias e amarrar os cadarços deviam ser modalidades olímpicas. Se adotarem a idéia, já vou começar a treinar.
Por Ruy Castro (FSP 30/10/23)
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