Pobre Édipo, passou à história como alguém que matou o pai e se deitou com a mãe. E pior, sentiu-se culpado disso tudo. Mas… a verdade é essa mesma?
Vejamos: quando ele ainda estava na barriga de Jocasta, rainha de Tebas, Laio, o rei seu pai, foi procurar o Oráculo de Delfos para saber da pitonisa o futuro de seu filho. Não é que a vidente disse que ele quando crescesse iria matar o pai e se casar com a mãe? Laio então decidiu matar o bebê antes! Deu-o a um escravo para que fizesse o trabalho sujo, mas este se apiedou do menino e o abandonou na floresta. Foi assim que o príncipe de Tebas, recolhido por um pastor, parou nas mãos dos reis de Corinto, que o adotaram como filho natural (escondendo sua condição de adotado: atenção, que isso é importante). Já crescido, alguém resolve lhe fazer mal e revela sua adoção.
Ele, chocado, vai aonde? Procurar a pitonisa de Delfos para saber de sua vida! Você já imagina o que ela lhe disse: a mesma coisa que disse para Laio. Tentando fugir desse destino (de matar o rei de Corinto, que ele julgava ser seu pai), foge para… Tebas! Na estrada, é atacado pelos batedores do rei de Tebas e acaba matando –em legítima defesa– Laio, seu pai biológico (que tentava assassiná-lo pela segunda vez).
Antes de entrar em Tebas, enfrenta a esfinge (uma fera mitológica que devorava viajantes), decifra seu enigma e a mata, tornando-se herói. Como prêmio, é forçado a se casar com a rainha viúva… Jocasta!
No fim da peça de Sófocles ele descobre tudo e fica arrasado de tanta culpa, ao ponto de se cegar.
Agora eu te pergunto: Édipo merece essa fama maldita? A meu ver, ele foi colocado numa arapuca inescapável, metido num problema que não era dele, era dos pais. Não deixaram Édipo viver sua própria vida. Ele foi atrelado à vida dos pais, aos assuntos dos pais. E mesmo os reis de Corinto, seus pais de adoção, deixaram uma armadilha esperando por ele, ao sonegar-lhe sua verdadeira história.
Freud considerou que, assim como Édipo, nós não poderíamos fugir ao nosso destino: ficaríamos de algum jeito marcados pelos assuntos/problemas de nossos pais. Concordo. A nossa espécie é muito dependente de ter adultos que criem os filhos por longo tempo, nascemos muito frágeis, e é esse tempo de exposição que faz com que a criança se enrole na incompetência de quem a criou.
Mas não precisa ser tão grave como foi para Édipo! O Complexo de Édipo diminui de tamanho se os pais forem competentes, e a criança terá menos problemas em cuidar de sua vida, pois estará desalugada dos assuntos dos pais. Por exemplo: uma única consideração do rei de Corinto, a de contar para Édipo sua verdadeira origem, desarmaria toda a encrenca em que Édipo se meteu (ou foi metido). Uma simples postura, a de que os filhos não nos pertencem, que eles terão suas próprias vidas e que nossa função é ajudá-los para vivê-las, é suficiente para que seus complexos de Édipo sejam enormemente diminuídos.
Resumindo: o complexo de Édipo dos filhos está nas mãos dos pais.
Por Francisco Daudt
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