Evitar uma pessoa com deficiência, fingir que ela não existe, emperra a inclusão e é preconceito
Cada vez mais, os grupos sociais se organizam para terem suas identidades respeitadas e para criarem espaços dignos de manifestação, de crescimento, de trabalho e de relações as mais diversas. Entender que está entranhado em nossa mentalidade maneiras preconceituosas de tratar as diferenças, ajuda a aumentar a velocidade do processo. Aqui, algumas dicas:
1 – No meio da reunião, seu chefe te colocando na parede, fazendo pressão e você solta o argumento mór dos desesperados: “estou sem braços para isso”.
Não sou nenhum patrulheiro de expressões idiomáticas, mas toda vez que a gente atribui incompetências, entraves ou impossibilidades fazendo uso de inabilidades físicas, sensoriais ou intelectuais, o capacitismo –preconceito contra pessoas com deficiência— aflora.
Vale refletir sobre “é tão fácil que um cego poderia fazer”; “está usando essa desculpa como muleta”; “o mercado abriu meio autista”, “trocou os pés pelas mãos”. Ter uma condição diferente não imputa a ninguém bloqueios eternos. Tudo se refaz, se reinventa, se completa de outra maneira.
2 – “Mas essa médica anda de cadeira de rodas? Como ela examina?”; “Como essa moça surda vai dar conta de fazer a tarefa assim”. Duvidar do preparo intelectual de uma pessoa com deficiência sem base real é capaticismo clássico. Não projete a sua incapacidade no outro.
3 – O atendente tem síndrome de Down e você foge dele porque não sabe “lidar”. Ainda não foi criado o “manual do serumano”, então, abra-se à diferença dos outros, aprenda outras formas de se comunicar e trocar. Evitar uma pessoa com deficiência, fingir que ela não existe, emperra a inclusão e é capatismo.
4 – Propagar que uma tetraplegia, uma paralisia cerebral foi punição de “gzus”, foi para pagar as maldades e coisas religiosas do tipo. Seja qual for sua fé, a humanidade é prática que pode ser comum.
5 – É capacistismo quando não se promove acessibilidade porque “ninguém com deficiência vem aqui”. Ir e vir é direito; instrumentos de inclusão são amparados por lei e ser bem-vindo implica ter as portas abertas e convites com sorrisos.
6 – Todas as vezes que se diz que um cadeirante que só toca sua rotina normalmente é um exemplo de superação, além de os pandas chorarem no Himalaia, uma demonstração capacitista foi dada. Normalmente, enaltecer demais uma pessoa com deficiência oculta a falta de ações concretas para que ela acione a vida social, a cidadania. Méritos devem ser elogiados, realizar o básico é da vida.
7 – Uma das formas mais complexas de capacitismo é o ajudar sem ninguém ter pedido, ofender-se por ter ajuda recusada e insistir para ajudar. Costumo dizer que nunca consigo tocar minha cadeira por mais de dez metros porque irá aparecer o escoteiro do dia atrás de fazer sua boa ação. Todo o mundo vive melhor sendo prestativo, mas é sempre bom saber como auxiliar, se é de fato necessário e qual o nível de apoio você pode dar. Pessoas com deficiência também curtem ter autonomias.
A atriz Mona Rikumbi, 50, que é negra, cadeirante, moradora da periferia e uma das vozes do registro cinematográfico “Transo”
8 – Se na sua escola não tem aluno com deficiência, se no seu trabalho não há profissionais com deficiência, pode apostar, alguém na estrutura está sendo capacitista. Cobre inclusão e diversidade!
9 – Tratar uma criança com deficiência como anjo colorido ou serzinho iluminado é fofo, mas é capacitista, assim como fazer “guti-guti” com um homem tetraplégico que você pensa ser um bebê.
10 – Deficiência não define gênero. Existe cadeirante sapatão, surdo gay. Todos têm –ou merecem ter– vida sexual, expressão de gênero. Qualquer pensamento contra isso, é duplo preconceito.
Por Jairo Marques (FSP 16/08/23)
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