Sou filho de pai espanhol, galego e mãe brasileira, do interior do Paraná. Minha avó paterna morreu muito jovem, com um bebê no colo – era irmão do meu pai – na frente de uma lareira para espantar o frio, baixou a pressão e eles caíram literalmente dentro da lareira, os dois morreram queimados. Meu pai uma criança nestes tristes dias. Meu avô morre muitos anos depois, na Espanha, quando meu pai já residia no Brasil. Meu avô materno, não conheci, faleceu e não tive o prazer de escutá-lo, entretanto, minha avó conviveu conosco por alguns anos, partiu para outra galáxia quando eu estudava na Espanha. Aprendi muito escutando-a, mas a falta de convivência com os demais foi demasiado amargo.
Por carência dos mais velhos ou mesmo por algum transtorno, converso com eles, os avós, todos os dias, talvez para me acalmar ou quem sabe, para dar um sentido em tudo isso. Nas “nossas” conversas, escuto-os com muita calma e curiosidade, sempre rodeado de filosofia. Em alguns momentos até em iídiche Geh Gesunter Heit (Vá com saúde), são expressões usadas entre nós, ou, fique bem, meu neto. Esses processos de transferência (Freud novamente), pautam os “nossos” encontros. As prosas com os avós começaram quando meus filhos eram adolescentes. Utilizava muitas dessas conversas para educar meus filhos. As conversas com os avós foram se refinando, quanto mais eu lia, mais escutava-os.
Ainda aproveito às conversas para comentar ou responder assuntos delicados com amigos e familiares, o encaminhando sempre é o mesmo “meu avô disse que….” ou, minha avó era genial, “cansou de me escrever me alertando que….” Fica muito mais fácil responder questões irrespondíveis.
Pois então, nessa semana, quando um grande amigo me conta sobre o seu lastimável estado de saúde, abatido pela situação, fui obrigado a recorrer ao meu avô, para dar um sentido na atual situação de enfermidade: Um dia meu avô disse…comecei eu, para acalmar meu amigo – querido, abra as pernas e desça o tronco, agora veja o mundo de cabeça para baixo. Fiz que o velho mandou. E aí, complementou – a paisagem mudou? Respondi que não, mas achei o “diferente” legal. E veio a lição – a vida é assim, tudo depende da perspectiva, mas tudo continua igual.
Eles são ótimos, me ajudam muito
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