Quase sempre associamos crise com mudanças, mesmo que esse conceito seja banalizado. As crises são muitas: financeiras, de saúde, relacionamentos, de mundo e muitas outras.
Preciso confessar da minha, da idade. Crise da meia-idade, mesmo que já tenha passado dessa “meia” e entrado na velhice. A crise apareceu em idade avançada ou não vivenciei essa da meia-idade. Então, não sei exatamente qual a crise que estou vivendo. As minhas certezas escafederam há muito, as inseguranças são peculiares, diferente de outras pessoas. Buscar sentido nas realizações, para mim não faz mais sentido, pois tudo que faço faz sentido, mesmo que não me esforce muito.
De Francis Bacon a Schopenhauer, passando por John Donne, já li todos esses filósofos, mesmo assim continuo órfão ou, um órfão cósmico. Esse ceticismo que talvez explica a razão da “crise,” deixa de ser uma mudança, como o próprio conceito explica, para tornar-se o próprio caminho. Percorrer caminhos com novos itinerários sem um “google maps” nem sempre é fácil, mas é a única alternativa. É como se ainda não tivesse encontrado os Manuscritos do mar Morto escondido no deserto judaico. Um escriba desconhecido escrevera: “Não existe nenhum homem capaz de contar a história inteira.” É isso, final incerto!
Adaptar-se a tudo que rodeia uma idade avançada, torna-se um desafio de gerar um “novo” homem, submetido a cultura da velhice ou da melhor idade. Essa decisão é particular. É como fazer malabarismos com símbolos, na maioria das vezes “imaturo e desatento aos perigos que corre.” A angustia da idade também vagueia em saber que mesmo estudando, pensando, lendo, possa ajudar na salvação. Pura bobagem! “O tempo terreno é um pequeno parêntese na eternidade”, o eu centrado no meu futuro realizado e idealizado.
Enfim, as somatórias dos golpes nos levam a acreditar que pode existir outras crenças. “Finalmente, e talvez o mais violento de todos os golpes, o mundo natural deste momento provou-se uma ilusão, uma fantasia do breve tempo de vida do homem.” Órfão, somos todos, somos uma cadeia genética, a todos os vertebrados. Isso é um conto de fadas? Uma estrada sem volta? Um espetáculo sem ensaio?
Percorrer este longo caminho através do tempo, só faz sentido se assumirmos os riscos dessa viagem inacabada. Creio que a crise só mude de nome nessa viagem.
Em tempo: Entre fissuras e fendas no tempo é um ensaio maravilhoso escrito por Loren Eiseley (1907-1977), antropólogo famoso, foi uma espécie de estranho no ninho da comunidade científica.
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