O bom profissional se curva à verdade, vai atrás da visão que é diferente da sua e quer ajudar na segurança da sociedade
Circulou pelas “internets” a imagem de um jornalista que fazia uma transmissão ao vivo, em Kiev, na Ucrânia, quando um míssil russo cruzou o céu e provou uma explosão, causando um aparente pânico no comunicador que parou de falar para se proteger.
Em menor ou maior proporções, bons repórteres costumam ir bem além do limite razoável da autopreservação para informar e procurar versões da realidade, para mostrar, com técnica e preparo, o que ajuda a sociedade a ficar em segurança e a tomar decisões com critérios objetivos.
Tentar desvirtuar a ação jornalística é prática que remonta à criação da própria imprensa, faz parte. A vigilância crítica, que se multiplica com mais acesso à informação, mais ajuda do que atrapalha uma vez que faz ampliar a espessura da veste de responsabilidade pública da profissão, tudo certo.
O que tem gosto azedo é quando a ignorância insiste em se sobrepor ao que foi descortinado com método, com esforço, com atenção às fontes que geram as informações, com critério de pluralidade. Paixões por causas circunstâncias, geralmente, são as mais amargas quando atacam o jornalismo.
Fiquei insone quando, ocupando um cargo de coordenação no jornal, tive de começar a escalar repórteres, de forma inédita, a romperem o isolamento de proteção de suas famílias e suas próprias para visitarem UTIs, Brasil adentro, repletas de pacientes agonizando com os efeitos da Covid e profissionais de saúde em perplexidade com a devastação que o vírus era capaz de fazer no corpo humano.
À frente de seus medos e angústias, repórteres iam às ruas para mostrar do que se tratava a catástrofe epidemiológica a fim de que famílias, trabalhadores, crianças, viventes quaisquer pudessem tomar decisões sobre como conduzir suas jornadas de cuidado e de sustento.
Em lance que foi impugnado pelo juiz, Pelé vence adversário para tentar a tabela com Servílio, no jogo entre Brasil e Escócia, em Glasgow Aroldo Chiorino – jun.1966/FolhapressMAIS
O período eleitoral criou uma lista de mulheres jornalistas que são odiadas e diariamente ofendidas e asfixiadas pelas redes sociais, que não economizam em machismo e em misoginia. Já tive várias colegas repórteres que enquanto descobriam maracutaias políticas ou descortinavam desgraceiras sociais, tiveram de deixar de priorizar seus filhos e rotina em nome do dever social.
Jornalistas erram abordagem e fatos, vivem em bolhas, agem com a pressa inerente ao conceito de notícia. Ao mesmo tempo, o bom profissional de comunicação se curva à verdade, vai atrás da visão que é diferente da sua e quer atingir o público com apurações que otimizem seu dia a dia.
Mas o que um espaço de debate sobre diversidade e inclusão tem a ver com a discussão a respeito da pressão insana sofrida por profissionais de comunicação? É a boa comunicação a que auxilia em demandas sociais por mudanças de visibilidade, por mais espaços, por representações dignas, por entendimentos de conceitos represados em preconceitos.
As eleições mudam diversos rumos do país, mas não mudam a necessidade de fiscalizar os eleitos e suas ações, de cobrar compromissos assumidos, de mostrar a recepção da população às medidas adotadas ou engavetadas. Serão os jornalistas quem fielmente estarão lá para isso.
A questão não é gostar ou não da fulana jornalista, de ser contra uma entrevista realizada por sicrano ou ainda avaliar que pouco se tratou da informação que um grupo gostaria de ver exposta. A questão é entender que atacar profissionais de impressa é errar o alvo de quem quer um país melhor independentemente das cores que ele vista.
Por Jairo Marques (FSP 25/10/22)
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