Lembro que um dia na escola um professor de filosofia comentou que era imprescindível aprender a ler, escrever e nadar, isso me marcou muito. Por que nadar? Só muito mais tarde descobri que a frase era de Platão, mesmo assim, ainda marcado. A frase me tocou e não havia ruídos de tanta importância para se levar à sério, até porque eu já nadava e não dava importância pelo aprendizado. Só na maturidade, em reflexões existenciais percebi que meu aprendizado na natação teve um valor imensurável na superação dos meus medos, inclusive da água. Aprender nadar foi uma consequência.
Também descobri que não era só eu que tinha medo da água, muitos amigos, alunos, parentes e tantos outros, não deixavam-se livres para enfrentar o medo em perder o contato dos pés com o chão, em se deslocar na horizontal e manter a respiração sob os controles das necessidades aquáticas.
Os benefícios da prática da natação já são insistentemente explorados neste espaço, como qualquer outra atividade física, então, caminho por outras percepções.
Se por natureza e lazer gostamos muito de mar e rios, navegar por estes sem saber nadar deve ser frustrante. E nem me refiro ao nadar, mas aproveitar a energia das “águas.” Mergulhar, por exemplo. É mágico como sentir e ver um pôr do sol ao lado da amada(o). Em uma percepção mais transcendental, sentir a água, estar na água é voltar da onde viemos (não só do pó viemos). No mergulho pelo mergulho, nos sentimos acolhidos pela riqueza das propriedades da água (mar, rios, cachoeiras etc..), permanecemos imersos em nossos pensamentos e anseios. Mantemos não só o controle da respiração, mas do corpo como um todo. O deslizar na água é como deslizar na “vida”. Há dias que afundamos, outros, desfrutamos.
Não precisa ser nadador profissional para perceber as semelhanças da vida com a natação, uma vida interior do “eu” , o fluxo “incoerente e semiconsciente dos pensamentos, a livre associação de ideias e de imagens que nos invadem de modo caótico ao sabor de uma viagem – subaquática – que ignoram as regras conscientes e disciplinadas da cronologia e dos enredos tradicionais….”
Nunca é tarde para aprender a nadar
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