Transformar ciência em uma linguagem popular é muito difícil, esse é um dos motivos da alienação da população sobre os assuntos relevantes das nossas pesquisas. Estresse, ansiedade, depressão e outros relacionados ao nosso psiquismo, tornam-se tecnicismo para poucos, a maioria palpita.
Já peço desculpas para os que chegaram até aqui, não sou especialista, nem divulgador da ciência, apenas um cidadão que gosta do assunto. Sendo assim, vou tentar apresentar alternativas de tratamento sobre os temas mencionados acima, numa linguagem do dia a dia.
Paul Nurse (Prêmio Nobel) no seu último livro, O que é a vida, começa escrevendo ” É possível que eu tenha considerado me tornar biólogo por causa de uma borboleta (…)”, da minha parte diria, tornei-me um professor de Educação Física por causa de uma bicicleta. Ganhei minha primeira bike, aos 9 anos, uma monark vermelha, talvez minha primeira paixão. Dividia o futebol da calçada com os passeios de bicicleta. Aracy, era o nome da vermelhinha. Acabei conhecendo lugares do bairro que nem meus pais conheciam; casas portentosas, ruas com nomes desconhecidos, jardins bem cuidados, pessoas amigáveis e muitas outras imagens. Não me fissurava a velocidade, mas o flanar. Foi assim que aprendi a gostar de andar de bicicleta, admirando lugares e pessoas.
Pois bem, vamos ao principal. No feriado de terça-feira, resolvi mudar minha rotina, mesmo que muitos me acusem desta impossibilidade, deixei a estrada e fui pedalar no centro de Curitiba. Ruas vazias, poucos carros e eu com minha magrela. Faço isso de tempos em tempos, para conhecer melhor minha cidade. Fiz questão de passar pela rua XV (para quem não conhece Curitiba, esta é a principal rua (calçadão) da cidade), quase todas lojas fechadas, exceção para as lojas Marisa, lembra-se? Lojas americanas também abertas e outras de chineses. Confeitaria das Fam´ílias atendendo os poucos transeuntes, mas o aroma continua o mesmo. Vendedores de máscaras é a inovação da rua.
Na passagem, fiquei curioso… com a conversa das pessoas sentadas pelos bancos da XV, queria saber o motivo de algumas lojas abrirem suas portas em um dia tão recluso. Senti saudades da mulher que gritava “borboleta”, vendendo cartão de loteria, uma das nossas personagens curitibanas. Não estava lá o artesão, mas as banquinhas abertas estavam.
Terminei o passeio em um dos lugares mais bonitos do Brasil, na praça Santos Andrade, uma mistura de Burle Marx com Walter Benjamin. Um arquétipo da experiência moderna. Não resisti e sentei em um dos bancos bucôlicos da praça para contemplar a beleza do lugar. Sei que o tempo nos impede destes momentos, como também sei que, sem esse tempo, sou corroído pelo tempo do consumo. Então prefiro resgatar o pouco de sanidade que ainda resta.
Mais próximo da minha cidade maravilhosa, mais contemplativo, flanar pelas imagens esquecidas e destruídas pelo olhar edipiano, ajudam-me a fugir da ansiedade e depressão, e quem sabe, me aproximar do meu eu.
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