Grimag

  • HOME
  • Sobre
  • Informações
  • Saúde
  • Livros / Poemas
  • Esportes
  • Notícias
  • Contato

Paraolímpico ou paralímpico?

Em questões de língua, é mais fácil mandar do que ser obedecido.


A história da palavra “paraolímpico”, que a esfera esportiva oficial tenta substituir por “paralímpico”, ilustra de modo fascinante os caminhos da língua e os limites do poder de quem busca regulá-la.

Espera aí —fascinante? Que fascínio pode haver numa variação de grafia que não altera o sentido e que pouco significa diante da grandeza dos jogos disputados neste momento em Tóquio?

Bom, para quem se interessa pelo funcionamento das línguas, a prova em que se enfrentam paraolímpico e paralímpico permite acompanhar um embate que simboliza muitos outros.

Falo das disputas em que, quase sempre com fundo político, grupos de pressão tentam moldar palavras segundo seus interesses. Ao fazer isso, enfrentam com graus variados de sucesso uma vontade coletiva que é meio amorfa, e por isso mesmo poderosa.

Em 1960, 400 atletas disputaram em Roma, em versão oficiosa, os primeiros jogos da modalidade, chamados então de modo geral —e por aqui exclusivamente— de paraolímpicos.

Natação - Carol Santiago - medalhista de ouro nos 50 m livre classe S13 e 100 m livre classe S12; prata no revezamento 4 x 100 m livre 49 pontos; bronze nos 100 m costas classe S12
Natação – Carol Santiago – medalhista de ouro nos 50 m livre classe S13 e 100 m livre classe S12; prata no revezamento 4 x 100 m
Natação - Gabriel Bandeira - medalhista de ouro nos 100 m borboleta e de prata nos 200 m livre e nos 200 m medley classe S14; bronze no revezamento 4 x 100 m livre S14
Atletismo - Jardênia Félix Barbosa da Silva - medalhista de bronze nos 400 m classe T20
Natação - Mariana Gesteira - medalhista de bronze nos 100 m livre classe S9
Natação - Wendell Belarmino, Douglas Matera, Lucilene Sousa e Carol Santiago - medalhistas de prata no revezamento 4 x 100 m livre misto 49 pontos
Atletismo - Raíssa Machado - medalhista de prata no lançamento do dardo classe F56
Atletismo - Yeltsin Jacques e o guia Bira - medalhista de ouro nos 1.500 m classe T11
Atletismo - Elizabeth Gomes - medalhista de ouro no lançamento do disco classe F52
Atletismo - Alessandro da Silva - medalhista de prata no arremesso do peso classe F11
Atletismo - Vinícius Rodrigues - medalhista de prata nos 100 m rasos classe T63
Tênis de mesa - Bruna Alexandre - medalhista de prata classe 10
Atletismo - Claudiney Batista dos Santos - medalhista de ouro no lançamento do disco classe F56
Halterofilismo - Mariana D'Andrea - medalhista de ouro na categoria até 73 kg
Judô - Alana Maldonado - medalhista de ouro (até 70 kg)
Natação - Gabriel Geraldo Araújo - medalhista de ouro nos 200 m livre e de prata nos 100 m costas classe S2
Natação - Beatriz Carneiro - medalhista de bronze nos 100 m peito classe SB14
Remo - Renê Pereira - medalhista de bronze no remo single sculls PR1
Judô - Meg Emmerich - medalhista de bronze (acima de 70 kg)
Atletismo - Thalita Simplício e o guia Felipe Veloso - medalhista de prata nos 400m T11
Natação - Gabriel Bandeira, Ana Karolina Soares, Débora Carneiro e Felipe Vila Real - medalhistas de bronze do revezamento 4 x 100 m livre misto S14
Atletismo - Cícero Valdiran Nobre - medalhista de bronze no lançamento do dardo classe F57
Atletismo - Julyana Cristina da Silva - medalhista de bronze no lançamento do disco classe F57
Judô - Lúcia Araújo - medalhista de bronze na categoria até 57 kg
Tênis de mesa - Cátia Oliveira - medalhista de bronze na classe 1-2
Atletismo - Wallace Santos - medalhista de ouro no arremesso do peso F57
Atletismo - Petrúcio Ferreira - medalhista de ouro nos 100 m rasos classe T47
Atletismo - Washington Júnior - medalhista de bronze nos 100 m rasos classe T47
Atletismo - João Victor de Souza - medalhista de bronze no arremesso do peso classe F37
Natação - Wendell Belarmino - medalhista de ouro nos 50 m livre classe S11
Atletismo - Silvânia Costa - medalhista de ouro no salto em distância classe T11
Atletismo - Yeltsin Jacques e o guia Laurindo Nunes Neto - medalhista de ouro nos 5.000 m classe T11
Natação - Patrícia Pereira dos Santos, Daniel Dias, Joana Neves e Talisson Glock - medalhistas de bronze no revezamento 4 x 50 m livre 20 pontos
Hipismo - Rodolpho Riskalla - medalhista de prata no adestramento classe IV
Natação - Daniel Dias - medalhista de bronze nos 200 m livre e 100 m livre classe S5, além no revezamento 4 x 50 m livre 20 pontos
Esgrima - Jovane Guissone - medalhista de prata na categoria B da espada
Natação - Phelipe Rodrigues - medalhista de bronze nos 50 m livre classe S10

Natação – Carol Santiago – medalhista de ouro nos 50 m livre classe S13 e 100 m livre classe S12; prata no revezamento 4 x 100 m livre 49 pontos; bronze nos 100 m costas classe S12 Alê Cabral – 29.ago.21/CPB

O neologismo era formado pela união do prefixo de origem grega “para-” (de paraplegia) com olímpico. No início, os atletas eram todos cadeirantes.

Desde então o movimento paradesportivo se expandiu e trabalha para obliterar a relação original com a paraplegia —o que é compreensível, mas não apaga a história.

A certa altura passou a constar no site do Comitê Paralímpico Internacional que a palavra “significa que os Jogos Paralímpicos se realizam paralelamente aos Olímpicos e ilustra o modo como os dois movimentos existem lado a lado”.

Embora haja especulações sobre uma tentativa de fugir de “olímpico” como marca registrada, não é claro por que em 1989, ao ser criada, a entidade máxima do setor adotou a contração no nome —em inglês, “paralympic”. O fato é que a impõe desde então às afiliadas mundo afora.

O êxito era previsível, considerando-se seu poder. Fundado em 1995, o Comitê Paraolímpico Brasileiro foi um dos que mais resistiram. Fiel à palavra original até 2012, anunciou no encerramento dos Jogos de Londres que em quatro anos seriam disputados os “Jogos Paralímpicos” do Rio.

Caía um bastião. Em Portugal, “paralímpico” era a palavra vencedora —no campo oficial— desde a fundação da entidade nacional, em 2008. Para tanto, o Instituto do Desporto contrariara um parecer encomendado à linguista Margarita Correia.

“Será mais consentâneo com a estrutura da língua portuguesa (…) que o termo em causa mantenha a vogal inicial ‘o’ da palavra ‘olímpico’”, observou ela.

Disse o óbvio, e isso não vale só para o português. Se contração houvesse, mais natural seria a forma “parolímpico” (veja-se, por exemplo, “paroxítona”). Paralímpico não soa bem —o que, longe de denotar purismo, é pura afinação do ouvido com os usos da vida real.

Essa deficiência linguística de “paralímpico” ajuda a explicar por que, apesar da musculatura das entidades dirigentes numa área dependente de amparo oficial e ainda em construção, a forma “paraolímpico” permanece viva.

Esta Folha a adotava, assumindo posição minoritária na imprensa nacional e internacional —até esta quarta (25)! Acaba de se render também. Lamento.

Que bom que há Houaiss, em que “paraolímpico” é a forma preferencial, e o Vocabulário Ortográfico da ABL, que nem reconhece “paralímpico”. Para não mencionar incontáveis falantes.

Ajudam a gente a lembrar que, em questões de língua, é mais fácil mandar do que ser obedecido. Ainda bem.

Por: Sérgio Rodrigues (FSP 26/08/21)

set 1, 2021Carlos Mosquera
EM ALGUM LUGARGal e Milton

Deixe um comentário Cancelar resposta

Carlos Mosquera
1 de setembro de 2021 Uncategorized
Posts recentes
  • Behaviorismo e Autismo 20 de maio de 2025
  • Projeto quer direitos das pessoas com deficiência em um só código 19 de maio de 2025
  • Poeminha de domingo 18 de maio de 2025

Categorias

DEVANEIOS E ILUSÕES

Lembranças que podem nos ajudar a pensar em uma Escola mais plural e inclusiva.

Em Destaque
Poeminha de domingo
Poeminha de domingo
ELA
Arquivos
Cadastre seu E-mail

Inscreva-se para receber as últimas novidades e publicações da página.

2019 © Carlos Mosquera