Em um momento em que está em ebulição a busca por tornar os ambientes de trabalho, empresariais, sociais e políticos mais próximos da realidade, ou seja, múltiplos em suas maneiras de se apresentarem, agirem e pensarem, também se aferventam formas obtusas de mudar a cara, de promover a diversidade que urra para chegar, para ter oportunidades.
As falhas nesses processos, em geral, nascem da pressa de dar uma resposta à pressão pública e, consequentemente, financeira ao “novo modelo” de dar as caras ao mundo, de mostrar o valor de uma marca, de um conceito.
O equilíbrio entre fazer acontecer e saber receber o diverso em um ambiente que foi tradicionalmente monocromático, arrumadinho e cheio de testosterona pode não ser tão simples, embora não possa se fazer absolutamente complexo.
A chance de um processo inclusivo equivocado é tremenda quando apenas se manda o “povo do RH” acelerar contratações de pessoas “de outros planetas”, sem que isso tenha passado antes por um mínimo de conversas coletivas sobre as razões de sermos mais plurais, sem que antes se entenda minimamente que uma pessoa com autismo não é um ser que precisa de paredes acolchoadas para bater a cabeça.
Não acredito que para receber uma visita em casa seja necessário um aposento de rei, mas também não dá para botar quem chega a nossa morada para dormir no quintal junto com os cachorros.
O que parece ser a fórmula do sucesso são os processos concomitantes: abrem-se as portas ao mesmo tempo que se procura a melhor acomodação, a forma mais receptiva de agir, a maneira mais honesta de criar um clima de interação, respeito e acolhimento.
Receber grupos diversos em uma organização também exige entender que novos parâmetros vão ser necessários para essas “boas-vindas”. Quebrar um padrão também implica mexer em fundamentos, rever princípios, reconstruir conceitos daquilo que se considerava indispensável.
Se assim não for feito, o resultado será fatalmente a geração da “diversidade perfumada”, como nomeio a inclusão de pessoas que, talvez, não tivessem a menor necessidade de um olhar mais atento, de condições mais razoáveis de acesso, de oportunidades honestas de acessar a formação, o trabalho, o lazer, a cultura…
Aqui também cabe a tomada de consciência sobre igualdade, humanidade, respeito ao próximo. Não acho que exista uma pessoa com mais ou menos deficiência, mais ou menos preta, mas acredito que haja mais ou menos oportunidades, acessos e condições financeiras, sobretudo.
Não dá para esperar que um colaborar cego enxergue um pouquinho, não dá para querer que um cadeirante dance o baile como um ator da Broadway. Uma pessoa trans pode ter tido alguma experiência de marginalização ao longo de sua trajetória de exclusões, logo é de esperar que uma questão como essa se manifeste de alguma maneira.
Apenas ter funcionários negros que tiveram formação francesa, gays “que nem parecem” ou mesmo velhos que trabalham como camelos sem reclamar não é criar um ambiente diverso, não é entrar em sintonia com o desejo latente de mudança no paradigma vigente. É jogar perfume no que se imagina diversidade.
Quem vem de regiões periféricas traz consigo um novo vocabulário, uma nova forma de ver os espaços e até os recursos.
Deixar a diversidade chegar é definitivo para se abrir à demanda atual de nosso tempo. Que ela seja abraçada com as cores, formas e sentidos que lhe sejam realmente legítimos e acolhedores.
Por: Jairo Marques
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