O envelhecimento resulta em perda de massa e força muscular, o que, em alguns casos, compromete a mobilidade, dificulta a caminhada ou a execução de tarefas do dia a dia, além de expor o idoso ao risco de quedas e internações.
Na prática clínica, o monitoramento da força da preensão manual de idosos é o método mais utilizado para identificar a perda da força muscular global. O alerta de risco surge quando se registra força de pressão manual menor que 26 kg para homens e menor que 16 kg para mulheres
Esses parâmetros estão sendo revisados. Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em parceria com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), a Escola de Enfermagem e a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e da University College London (UCL), sugerem valores da força de preensão manual mais altos que os utilizados em consultórios médicos, de fisioterapeutas e de nutricionistas. A nota de corte mais alta permite um diagnóstico precoce e o desenvolvimento de intervenções antes do agravamento clínico.
“Nosso estudo tem o objetivo de impedir esse roteiro que leva a perda de mobilidade. A partir da análise de dados populacionais e métodos estatísticos apropriados, testamos as notas de corte já utilizadas e verificamos que valores mais altos que os anteriormente propostos, como é o caso da força menor que 32 kg para homens e menor que 21 kg para mulheres, identificam de modo mais preciso idosos com limitação de mobilidade”, diz Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerontologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Alexandre coordena o International Collaboration of Longitudinal Studies of Aging (InterCoLAging), um consórcio de estudos longitudinais que inclui dados epidemiológicos do Brasil e da Inglaterra. Dessa forma, o estudo, apoiado pela FAPESP, contou com dados de 5.783 pessoas com 60 anos ou mais, todas participantes do English Longitudinal Study of Ageing (ELSA), na Inglaterra, coordenado por Andrew Steptoe com apoio de Cesar de Oliveira, e do Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE), no município de São Paulo – esse último também é apoiado pela Fundação e coordenado por Yeda Duarte e Jair Licio Ferreira Santos .
Antes que o problema surja de fato
No artigo publicado no Archives of Gerontology and Geriatrics os pesquisadores mostraram ainda que homens idosos com força da mão menor que 32 kg e mulheres idosas com força da mão menor que 21 kg têm, respectivamente, 88% e 89% mais chances de apresentarem limitação da mobilidade, independentemente de condições socioeconômicas, hábitos de vida, presença de doenças ou de suas medidas antropométricas”, diz Alexandre para a Agência FAPESP.
O aumento é considerável, visto que – embora existam variações de um estudo ou de um país para outro – uma das notas de corte mais utilizadas até então mostrava que a força de pressão manual que indicava risco era a menor que 26 kg para homens e menor que 16 kg para mulheres.
Na pesquisa, o grupo também comparou as notas de corte de estudos anteriores que correlacionavam os valores de força da preensão manual (medida por um dinamômetro) com a capacidade de caminhada (medida pela velocidade de marcha) dos mais de 5 mil idosos monitorados nos estudos SABE e ELSA.
“Aumentamos bastante a nota de corte, o que permitiu identificar previamente aqueles que têm mais chance de limitação de mobilidade. Com isso é possível agir previamente, descobrir a causa do problema e programar um tratamento para evitar todas as consequências da perda de força muscular e da mobilidade. Dessa forma, no nível individual preserva-se a capacidade funcional do idoso, garantindo interações sociais e maior qualidade de vida na velhice. Do ponto de vista comunitário, o uso de índices mais altos contribui para reduzir os custos dos cuidados de saúde”, diz.
É melhor evitar
A força muscular é de extrema importância para a mobilidade. Um exemplo clássico é a falta de força nos músculos dos membros inferiores que impede o indivíduo de conseguir andar. Contudo, tanto a perda de massa muscular quanto a de força são processos naturais do envelhecimento e só quando ultrapassam certo limiar tornam-se um problema grave conhecido como sarcopenia.
De acordo com os pesquisadores, embora já se saiba que a perda de massa e de força seja muito importante para o declínio da mobilidade do indivíduo, o ponto exato em que a baixa massa muscular implica redução da força e da mobilidade ainda não é totalmente conhecido. “O declínio da força depende do declínio da massa, mas existem outros fatores envolvidos nesse processo, como fatores neurológicos, hormonais e a falta de vitaminas. Por outro lado, sabe-se também que é possível recuperar a força muscular. Por isso é tão importante uma medida que permita identificar o melhor momento de iniciar tratamentos prévios que evitem a perda de mobilidade”, afirma Maicon Delinocente, pesquisador da UFSCar que participou do estudo.
De acordo com Delinocente, a partir do momento que o problema é diagnosticado, é preciso identificar sua causa e tratá-lo por meio de treino resistido (musculação) e de adequada dieta proteico-calórica, por exemplo.
O artigo Accuracy of different handgrip values to identify mobility limitation in older adults (doi: 10.1016/j.archger.2021.104347), de Maicon Luís Bicigo Delinocente, Danilo Henrique Trevisan de Carvalho, Roberta de Oliveira Máximo, Marcos Hortes Nisihara Chagas, Jair Licio Ferreira Santos, Yeda Aparecida de Oliveira Duarte, Andrew Steptoe, Cesar de Oliveira e Tiago da Silva Alexandre, pode ser lido em www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0167494321000108?via%3Dihub.
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
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