Em 2015, cerca de 194 países, entre eles o Brasil, assumiram o compromisso de assegurar educação de qualidade —entendida como bons resultados de aprendizagem— a todos, sem exclusões, até o final do ensino médio. Isso envolve um brutal esforço para combinar excelência e equidade, dois termos que raramente caminham juntos quando o tema é educação.
Nesse sentido, a crise da Covid-19 atinge o mundo não apenas na saúde e na economia, aspectos mais visíveis do problema que vivemos, mas também na formação necessária para a geração atualmente em idade escolar. São atualmente cerca de 165 países com escolas fechadas para garantir o distanciamento social. Não se trata só de perda do direito ao estudo, mas da futura empregabilidade ou do acesso a oportunidades de empreendedorismo.
Por esses motivos, deve ser saudado o texto elaborado por Andreas Schleicher, diretor da área de educação da OCDE, e Fernando Reimers, professor de educação de Harvard, “Roteiro para guiar a resposta educacional à Covid-19”, baseado em entrevistas com especialistas e autoridades de vários países.
O texto apresenta recomendações para assegurar menores perdas de aprendizagem por parte dos alunos e evitar um aumento das desigualdades educacionais. Afinal, os alunos de boas escolas particulares estão recebendo regularmente aulas à distância, orientação de pais mais escolarizados e tarefas escolares estruturadas. Além disso, vivem em lares menos impactados economicamente pela pandemia.
Com um sentido de urgência, o texto propõe que seja criado um comitê de crise educacional, que se simplifique e repriorize o currículo, ajustando para a situação de aprendizagem remota, que se combinem diferentes meios de ensino, se possível o online, mas também programas de TV, transmissão de programas de rádio e textos ou tarefas em livros ou cadernos de atividades.
A implementação da proposta demandará, certamente, algum mecanismo de formação continuada emergencial dos professores, dadas as novas circunstâncias de atuação, alerta o documento. Além disso, um canal de comunicação com pais e professores deve ser construído, em que os mestres e gestores escolares possam trocar ideias e soluções e que envolva os pais na educação dos filhos.
O relatório propõe igualmente que se assegure apoio adequado aos estudantes de famílias mais vulneráveis durante a implementação do plano de educação alternativa.
Muito pode ser feito, e, sem dúvida, construiremos no Brasil as nossas saídas, mas a crise educacional resultante do que não fizermos agora pode cobrar um preço alto demais no futuro.
Claudia Costin
Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.
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