Depois de anos celebrando o aumento de alunos no ensino médio, chegamos em 2020 com um dado aparentemente estarrecedor divulgado nesta segunda-feira (30) pelo Inep: houve menos matrículas em 2019 que em 2018. Pior, isso ocorreu tanto nas redes públicas quanto nas escolas particulares.
Certamente devemos investigar se a causa seria a redução da taxa de repetência, com um número menor de alunos cursando novamente a mesma série, ou, numa outra possibilidade, se a transição demográfica finalmente chegou a esta modalidade de ensino, como já havia ocorrido no ensino fundamental. Em ambos os casos, isso explicaria o menor número de alunos.
Na verdade, as autoridades do MEC, como instância coordenadora da política educacional, deveriam se pronunciar sobre os dados, na sequência da liberação do Censo Escolar. Se mais jovens abandonaram a escola ou nem se matricularam após concluir o 9º ano, a situação é bastante grave e demanda políticas públicas competentes. Afinal, em tempos de Revolução 4.0, ter cursado menos que o ensino médio é quase certeza de exclusão do mercado de trabalho e de prosseguir com a transmissão intergeracional de pobreza.
Mas, ademais de manter os alunos na escola, se queremos um país justo e desenvolvido é fundamental que, a partir deste novo ano, eles tenham aprendizados relevantes que impactem positivamente a produtividade do trabalho, hoje estagnada num patamar muito baixo. Para isso, além de melhorar o ensino de competências básicas, como leitura e interpretação de textos, matemática e ciências —áreas em que não nos saímos bem no Pisa—, precisamos desenvolver um repertório cultural e habilidades socioemocionais que os preparem para etapas seguintes de escolaridade, para a vida em sociedade e para o mundo do trabalho.
A Base Nacional Comum Curricular para o ensino médio, que começou a ser traduzida em currículos estaduais em 2019, vai ajudar nessa direção, embora tenha que enfrentar a complexidade de lidar com cinco itinerários formativos alternativos e definir como irão se organizar no território de cada unidade federativa. A ampliação da jornada escolar para, no mínimo, cinco horas também pode representar um desafio suplementar, especialmente em locais em que muitos jovens já estavam fora da escola ou estudavam à noite, período inadequado para a faixa etária de 15 a 17 anos.
Mas, sem todo esse esforço, além do empenho em atrair, formar e reter bons professores, não teremos nem um ensino médio de qualidade, nem crescimento de longo prazo. Que, em 2020, todos os jovens estejam na escola e aprendendo. É assim que se constrói um país.
Claudia Costin
Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.
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